Na madrugada de sábado, 24, terminou a votação da admissibilidade do primeiro processo de impeachment contra o ainda governador Carlos Moisés da Silva. Ele terá até 180 dias para se defender de um crime que, segundo juristas do Tribunal de Conta do Estado e membros do Judiciário Catarinense, não existiu.

Supondo que Moisés realmente seja culpado nesse processo, Daniela Reinehr também deveria receber a mesma punição, pois assumiu o governo e teve a mesma atitude do governador.

Mas com o voto do deputado estadual Sargento Lima (PSL), condenando Moisés e salvando Daniela, e logo após o voto do desembargador Luiz Felipe Siegert Schuch, que aceitou o parecer do relatório do deputado Kennedy Nunes (PSD) de afastamento do governador e da vice, o plano contra Moisés estava se completando.

Na verdade, toda a saga de Carlos Moisés começou quando ele desdenhou a força do 17 após as eleições de 2018 e preferiu se afastar do presidente Jair Bolsonaro, se achando tão ou mais importante que aquele que o elegeu. Seu segundo erro capital foi ter isolado a vice-governadora, Daniela Reinehr, das decisões de governo, querendo ser o único a dar a palavra final na administração estadual.

Mas o erro que mais impactou na sua caminhada como governador do estado foi querer desprezar a participação e a força da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, achando que poderia governar sem os deputados estaduais e principalmente sem dar a devida importância para o comando da Alesc.

A partir daí, todas as forças se uniram e chegaram à conclusão de que o governador do estado de Santa Catarina não poderia continuar.

É fato que a administração de Moisés era muito boa para o estado, mas ele cometeu o pior crime que apolítica não perdoa, que é a falta gratidão com aqueles que o ajudaram a chegar aonde chegou.

A primeira ação dos opositores foi receber o primeiro pedido de impeachment na Alesc, de autoria do defensor público Ralf Zimmer Jr, um defensor público próximo do ex-governador Raimundo Colombo e que já flertou com o PSDB e MDB estadual. Esse pedido ficou maturando na Alesc até que pudesse ser ativado num momento de fragilidade do governador.

Veio a pandemia, veio também o vazamento de informações de dentro do governo para o The Intercept Brasil e daí surge o escândalo dos 200 respiradores chineses, onde foram pagos R$ 33 milhões para a Veigamed, que acabou não entregando a mercadoria para o Governo do Estado.

Com isso, caíram Helton Zeferino, Douglas Borba e Amandio João da Silva Junior, Lucas Esmeraldino preferiu ir para Brasília representar o governo do estado e Gonzalo Pereira e Jorge Tasca pediram para sair, deixando Carlos Moisés praticamente solitário em sua casa oficial.

A engrenagem foi sendo azeitada com a ajuda do Palácio do Planalto para salvar Daniela Reinehr, que administrou politicamente todas as ações para que Carlos Moisés fosse o único afastado por conta de um processo que não deve se sustentar.

Nos dias que antecederam o julgamento, muita conversa na Alesc e nos escritórios de advogados em Florianópolis aconteceram para que tudo fosse feito com a máxima lisura. Nada poderia dar errado, tudo foi minuciosamente pensado para que ninguém contestasse o resultado final, que agora precisa ser confirmado para que a saga do futuro ex-governador termine por conta de uma enorme falta de tato político num cenário que ele mesmo tratou construir.

Muito provavelmente Carlos Moisés será absolvido no caso da equiparação salarial dos procuradores, mas dificilmente escapará do processo de impeachment que trata da famigerada compra de 200 respiradores, em plena pandemia, onde desapareceram R$ 33 milhões que até hoje ninguém soube explicar quem apertou o botão do pagamento antecipado.

Daniela Reinehr será a governadora do estado pelos próximos dois anos, o presidente Jair Bolsonaro volta a ter uma forte aliada em SC visando o próximo pleito, Júlio Garcia deve novamente ter as portas abertas do governo para ser ouvido, os deputados estaduais vão receber a devida importância da governadora e todos seguirão suas trajetórias até a eleição, lá em 2022. E assim a vida seguirá com tudo voltando ao normal na política de Santa Catarina.

“EM POLÍTICA, ATÉ A RAIVA É COMBINADA”

Frase de Ulysses Guimarães


Quer receber notícias diretamente no seu celular? Clique aqui e entre no grupo de WhatsApp do jornal

Prefere ficar bem informado pelo Telegram? O jornal tem um canal de notícias lá. Clique aqui para participar