Caso Hering: advogado encerra contrato com empresa de gestão financeira e herdeiros alegam “má-fé”

Algarve teria exposto documentos sigilosos da família e tentado mudar estratégia jurídica

O que inicialmente parecia otimista quanto ao processo aberto por três herdeiros da Cia. Hering contra a indústria, a compra dos créditos de honorários do advogado do trio por parte da empresa Algarve Capital teve um desfecho com desentendimento.

A empresa de gestão de capital e fundos comprou 10% dos direitos creditórios do advogado Ives Braghitoni no ano passado. Porém, desde o início, causou impressão ao defensor e aos herdeiros de que estava mais focada em atrasar o processo do que em contribuir.

“Foi feita uma manobra tempos atrás que surpreendeu meu cliente [Pedro Roberto] e eles tentaram me tirar do caso. Mas eles adquiram créditos dos meus honorários, então se eu sair da ação eles não recebem nada. Muito estranho, para dizer o mínimo. Desde o começo estão tentando prejudicar ao invés de ajudar e é muito difícil não achar que foi de propósito”, afirmou o advogado.

Outra manobra que agravou o desentendimento foi a juntada de documentações sigilosas nos autos do processo, o que torna os dados públicos. Entretanto, para Braghitoni, essa questão é o que o leva a dar o contrato como encerrado.

Ainda assim, a Algarve Capital entrou com um processo para tentar se manter no caso como assistência. Entretanto, como a defesa está aguardando o processo ter uma cidade definida, vão esperar antes de entrar com outras medidas judiciais.

“O juiz encaminhou a ação para Blumenau, mas recorremos e estamos aguardando julgamento. Apesar de no papel a sede da Hering ser em Santa Catarina, a sede de fato fica em São Paulo, já que o conselho administrativo se reúne aqui. Por isso, o julgamento tem que ser feito na justiça daqui”, defende.

De acordo com o cliente e autor do processo, Pedro Roberto Hering Bell, as intenções da empresa em atrasar o processo ocorrem desde o início do contrato. Inicialmente a briga não seria tornada pública, mas a divulgação de documentação sigilosa foi o que o motivou a expor o caso.

“A Algarve nos procurou oferecendo ajuda, mas nunca cumpriu. Pelo contrário: eles acabam de juntar aos autos do processo documentação sigilosa, interna das partes, e extremamente sensível. É difícil não acreditar que eles não estão de má-fé desde o início”, disse Pedro à revista Valor Econômico.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Algarve Capital, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem. 

Entenda o caso

A ação é movida pelos três netos de Eulália Hering: Pedro Hering Bell, Rafaela Hering Bell e Eduardo Teodoro Hering Bell. Eulália foi casada com Max Victor Hering, sendo que ambos já são falecidos.

São réus nessa ação a própria Cia. Hering, Ivo Hering (presidente do conselho da empresa e padrinho de batismo de Eduardo Teodoro, autor da ação), Klaus Hering (bisneto de Hermann Hering e padrinho de batismo de Pedro Roberto, autor da ação) e Antônio Diomário de Queiroz (foi casado com Maike Hering, já falecida e tia dos autores da ação).

Segundo a peça judicial, os netos de Eulália acusam Klaus de ter removido a parte da herdeira da companhia em benefício próprio e de Ivo Hering. Isso teria ocorrido por meio de uma série de manobras utilizando a holding Inpasa, que tem dois CNPJs, com a transferência das ações de Eulália para Klaus.

Estas movimentações teriam ocorrido há mais de 20 anos, sendo que a senhora Eulália faleceu ainda em 2006. Os agora adultos herdeiros da Hering afirmam que seus tios os pressionaram a assinar uma série de papéis neste período, sem a companhia de um advogado, o que teria chancelado a movimentação considerada atualmente por eles como fraudulenta.

Leia também: Caso Hering: áudios obtidos com exclusividade apontam possível fraude e desvio do patrimônio de Eulália Hering

Segundo informações dos próprios autores da ação, Eulália era detentora de aproximadamente 10% da holding Inpasa.

A empresa também é processada porque, segundo acusam os autores, todas as movimentações eram de conhecimento da direção e dos conselheiros da época.


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