Para retribuir apoio em sua trajetória, treinador de jiu-jitsu cria projeto social para formar atletas em Blumenau

História inspiradora de um dos maiores mestres da região refletiu na formação de novos lutadores

Conhecido pelo alto rendimento de seus atletas e paixão pelo jiu-jitsu, o treinador Marcos Cunha está numa nova fase da sua carreira: possibilitar que jovens que não teriam condições se profissionalizem no esporte.

A UCLA – sigla que traz as iniciais de união, companheirismo, lealdade e amizade – foi criada para garantir que pessoas com potencial e paixão pela arte marcial possam se dedicar somente aos treinos e crescimento profissional.

O projeto é bancado por Marcos e alunos parceiros, mas pretende se expandir para dar ainda mais oportunidade para os jovens. Os dez atletas têm entre 17 e 24 anos e foram escolhidos a dedo pelo mestre.

“Recebi mais de 200 mensagens, mas escolhi as histórias que mais me comoveram. Não selecionei os melhores e mais graduados, e sim os que realmente queriam se dedicar. Quero oportunizar que eles possam viver em função do jiu-jitsu de forma tranquila, para que no futuro possam viver disso, como eu”, conta Marcos.

Inspiração na própria história

Não é à toa que Marcos hoje se preocupe tanto em dar oportunidade para os jovens. Sua história é baseada na ajuda e força que os outros deram para ele. Aos nove anos, ele descobriu o jiu-jitsu por acaso, por conta de um amigo. Mas não tinha condições para treinar.

Percebendo a paixão do menino, o professor deu uma bolsa para o pequeno Marquinhos. Quem comprou o quimono dele, foram pais de outros alunos – que eram também os responsáveis pelo lanche e transporte para ele participar dos campeonatos.

“Essa gratidão me acompanhou a vida toda, sempre quis retribuir o que recebi. O jiu-jitsu é tudo na minha vida. E hoje tenho a oportunidade de retribuir um pouco do que ele deu para mim de forma mais organizada. Além da parte competitiva, o caráter, responsabilidade, disciplina, confiança, ensinamentos para vida”, conta.

Pai de três meninas, Marcos veio para Blumenau também por conta do esporte. Foi o convite de um amigo que precisava de ajuda para dar conta das turmas que trouxe o carioca para o Sul. Mas não foi de cara que ele se dedicou somente ao grande amor.

“Trabalhei em algumas empresas em Blumenau até conseguir viver só do jiu-jitsu. Na Silmaq fui de carregador até segurança e encarregado geral da logística. Tinha épocas em que eu não tinha o que comer, sempre recebi muita ajuda para me manter e participar dos campeonatos”, lembra.

Marcos foi responsável pela primeira equipe de competição do jiu-jitsu na região e pioneiro no MMA em Blumenau. Transformou a cidade em um celeiro de atletas e levou campeões ao UFC.

Solidariedade que se multiplica

Quem vê o currículo de Marcos não imagina o empurrão que ele precisou para abrir o primeiro centro de treinamento. Foi um dos primeiros alunos dele, um coreano, que possibilitou que o espaço tomasse forma.

Durante as aulas particulares, ele sempre insistia que Marcos devia abrir o próprio espaço, mas o treinador desconversava por não ter condições. Um dia, o aluno chegou com a proposta de uma sala no bairro Fortaleza. Sem se preocupar em ser pago de volta.

“Sempre que eu tentava pagar, ele passava o dinheiro para outra mão e dizia que era patrocínio para o próximo campeonato. Quando ele veio conversar sobre morri de medo, porque não tinha dinheiro. Mas ele só falou que gostaria que eu ajudasse pessoas com potencial assim como ele fez comigo”, relembra.

Marcos (dir.) com os atletas da UCLA. Foto: Arquivo pessoal

Hoje, apenas na cidade ele possui dez filiais. Ao todo, são mais de 30 franquias espalhadas pelo Brasil e até mesmo no Canadá e Portugal, abertas por alunos que chegaram à faixa preta com ele.

“Hoje sou o único professor com um aluno atleta campeão mundial em Santa Catarina. Tenho mais de 20 alunos campeões da federação, vários campeões dos campeonatos europeus. Muito trabalho, dedicação, compromisso e comprometimento nos que acreditaram em mim para chegar onde estamos hoje”, comemora.

Projeto depende de parcerias

A UCLA teve início em meio à pandemia e foi colocada em prática no início de 2021. Com a ajuda de alunos que acreditam no projeto, Marcos alugou uma casa e firmou parceria com profissionais. As despesas de moradia, atualmente, são mantidas pelos alunos.

Já a alimentação é arrecadada pelos alunos a partir de seminários e aulas que eles dão nas academias do treinador em todo Vale do Itajaí. Porém, alimentos perecíveis como frango e ovo ainda dependem de doação ou compra.

“Esse projeto nasceu de muita batalha para que os atletas consigam ter aqui o melhor ambiente. Estrutura para treino, qualidade de vida e ensino. Mas ainda não consegui ajuda financeira.

Em parceria, há profissionais prestando serviços de musculação, nutrição, fisioterapia, educação física, atendimento médico, dentista, corte de cabelo, aulas de yoga e de inglês. Entretanto, quando a pandemia acabar o apoio financeiro para bancar as competições e as viagens envolvidas será necessário.

A ideia de Marcos é expandir a UCLA para outros municípios da região, até conseguir atender adolescentes do Brasil inteiro. “O que alegra meu coração hoje é conseguir sustentar minha família através do esporte, que é tudo na minha vida. É o que desejo para eles também”.

Como ajudar a UCLA

Para manter o projeto a longo prazo, Marcos busca empresas dispostas a financiar gastos de moradia, alimentação, deslocamento e competição dos atletas. Ou então para doar comida e serviços.

Quem quiser apoiar financeiramente ou ser voluntário de alguma atividade que possa beneficiar os jovens, pode entrar em contato com o treinador pelo telefone (47) 9-9244-2101. O número também é WhatsApp. Ou pelo Instagram de Marcos.

“Desde meu primeiro passo fui ajudado, e quero dar essas oportunidades para outras pessoas. Ainda tenho muito para conquistar, mas quero ter esses jovens ao meu lado. Ver eles conquistando os próprios objetivos é a realização do meu sonho”, completa o mestre.


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