A partir da curiosidade em conhecer e estudar as cidades de Santa Catarina a partir de Blumenau, conhecemos uma personalidade internacional que residia anonimamente no município de Dona Emma, antiga Colônia Blumenau, Alexander Lenard e sua esposa Andrietta Lenard. Foi conhecido dentro de vários idiomas e de acordo com a língua local, como: Lénárd Sándor (húngaro), Sándor Lénárd (magiar) Alexander Lenardus (latim) e Alexander Lenard (inglês) e entrou no Brasil, em 14 de março de 1952, como Sandor Lenard.

Lenard deixou contribuições, na pesquisa, ciência e música através de seu trabalho. Foi escritor, tradutor, desenhista, musicista, professor, médico e farmacêutico. Publicou livros em húngaro, alemão, italiano, inglês e latim extremamente reconhecidos e parte dos programas escolares e das referências de Universidades, em alguns países. Passou seus últimos anos de vida no município de Dona Emma, onde poucos, muitos poucos, tinham noção do trabalho desenvolvido por ele, muito reconhecido em países de língua inglesa, italiana, francesa e alemã. Entre seus admiradores estavam Thomas Mann e Hermann Hesse. Este último, escritor e pintor alemão que se naturalizou suíço. Em 1946, recebeu o Prêmio Goethe.
Apresentamos uma breve biografia, para que os catarinenses conheçam sua história pretérita, antes de chegar em Dona Emma em 1956.

Andrietta Arborio di Gatinnara.

Alexander Lenard se casou duas vezes. Em primeira núpcia, com Gerda Lenard (solteira Coste) e em segunda núpcia, com Andrietta Arborio di Gatinnara Lenard, uma nobre italiana nascida em Torino, Torino, Piemonte, Itália, em 6 de novembro de 2011 e que residia com Alexander Lenard em Dona Emma SC e lecionou em Blumenau, Florianópolis e São Paulo. Seus pais foram Mercurino Franco Arborio DI Gattinara e Marchesa Teresa Feltrinelli Gattinara.
Alexander teve um filho com sua primeira esposa, Gerda: Hans-Gerd Lenard e com sua segunda esposa, teve outro filho – Giovanni Sebastiano Lenard. Giovanni Lenard nasceu em 14 de fevereiro de 1946.
Dr. Hans-Gerd Lenard nasceu em 29 de julho de 1936 e faleceu em 6 de dezembro de 2015. Também foi um pesquisador, médico e autor de livros que publicaram suas pesquisas e traduções de pautas relacionadas à medicina infantil. Sua formação e pesquisa aconteceu na Heinrich-Heine-Universität Düsseldorf.

Andrietta Arborio di Gatinnara.

Até o início da 1° Guerra Mundial

Jenő Lénárd (1878-1924) e Ilona Hoffmann(1888-1938) pais de Alexander Lenard.

Alexander Lenard nasceu em 9 de março de 1910 na cidade de Budapest, no Império Austro-Húngaro, sendo o filho mais velho de seus pais: Jenő Lénárd (1878-1924) e Ilona Hoffmann (1888-1938). O pai de Alexander Lenard nasceu em Krefeld, na Prússia – Alemanha e foi registrado como Eugen Isak Levy, mudou-se para Budapest, em 1883 com sua mãe, Ida Johanna Weller, e seu irmão mais novo, Robert Jakob Levy. Este, mais tarde, tornou-se comerciante de cevada e fundador da fábrica de malte Carl Levy“Großvater Karl”, como Alexander Lenard mencionou em uma de suas publicações – descrevendo a vida com fartura da família e depois, os problemas que surgiram no final da primeira década do século XX. Jenő viajava muito, e com isto falava muitos idiomas.

Túmulo de Beniczkyné Bajza Lenke.

Na 1° Guerra, Eugen combateu como oficial de artilharia pelo Império Austro-Húngaro e foi prisioneiro de guerra até o início de 1919. Filósofo, poliglota, orientalista com estudos e livros sobre o budismo, doutor pela Universidade de Budapeste. Converteu-se à fé cristã luterana em 1909 e alterou seu nome para húngaro, passando, então, a se chamar Jenő Lénárd. Neste mesmo ano de 1909, Jenő se casou com Ilona, ​​filha de Sándor Hoffmann, veterinario de Keszthely e Borbála Lővy, seu pai era Mór Lővy, administrava o castelo em Nagytétény.
Este bisavô, “chefe de família e chefe tribal” – construiu uma vila em Budafok, bairro de Budapest, para sua namorada, a escritora Beniczkyné Bajza Lenke (1839 – 1905) – desempenhou um papel importante na vida de Alexander Lenard.

Beniczkyné Bajza Lenke.

Jenő Lénárd e Ilona Hoffmann, pais de Lenard, viveram seus primeiros 4 anos de casados, em Erzsébet Körút, Budapest, na residência de tia Emy, quando em 1913, alugaram uma casa em Fasor 22, ainda em Budapest. Neste tempo, Lenard contava com 3 anos de idade. E também, em 1913, nasceu a segunda filha e irmã de Lenard, Johanna. Após a 1° Guerra Mundial, nasceu o terceiro filho, Karl (Cali), que nasceu em 1921. Leonard, que o chamava de Cali, carregou a tristeza pela perda de seu irmão caçula pelo resto da vida. Ele morreu durante a 2° Guerra Mundial, em outubro de 1944, com 23 anos de idade, em campos de trabalhos forçados. Expressou sua dor, também em poesia.

Mein Bruder Carl (1944)

Mein Bruder liegt im namelosen Grab,
In unbekanntem Land, mit Unbekannten,
Der namelose Haß warf ihn hinab,
Zu Ungenannten –

Ich fühle manchmal seliges Erwachen,
Und meine Stirne ist so leicht und kühl –
Dann kommt ein unbenennbares Gefühl:
Ich darf nicht lachen.

Meu irmão Carl (1944)

Meu irmão está no túmulo sem nome
Em país desconhecido, com estranhos,
O ódio sem nome o derrubou,
Para sem nome –

Às vezes sinto um despertar feliz
E minha testa é tão leve e fria –
Então vem um sentimento indescritível:
Não tenho permissão para sorrir.

1° Guerra Mundial

Antes disto, Lenard lembrava que sua família viveu em plena felicidade, por um curto período, antes da 1° Guerra Mundial. Os verões eram passados ​​na propriedade da tia Emy e do tio Rudi, no Condado de Fejér, perto de Harmatospuszta, Adony.
Lenard aprendeu húngaro com sua mãe e com as pessoas da comunidade, e os avós paternos falavam alemão com ele. Foi então que a monografia de dois volumes de seu pai, Jenő Lénárd, sobre a vida e os ensinamentos do Buda, o Dhammo, foi publicada em 1911-13, com base na qual obteve seu doutorado em filosofia na Universidade de Budapeste, em 1914.
A 1° Guerra Mundial, onde o dia de sua eclosão, não é por acaso, chamada por Lenard, em sua obra de “o último dia verdadeiramente feliz da humanidade”, e que mudou toda a vida da família.
Jenő Lénárd, que imediatamente se ofereceu como tenente da reserva como voluntário, onde foi primeiro instruído na frente sérvia, mais precisamente em Osijek, para um curso de artilharia, depois, em Tirol, Bruneck, na frente italiana. Este período foi seguido, após uma breve preparação em Viena e Budapeste, pela organização de uma expedição, em maio de 1918. Em setembro de 1918, se dirigiu para a parte oriental da Turquia, para realizar pesquisas cartográficas, etnográficas e linguísticas, como líder da expedição, pois também falava turco.
Ilona Lénárd e os filhos sempre tentaram estar perto do marido. Viajaram para Osijek e depois para Bruneck várias vezes. Os períodos entre as viagens eram passados ​​em Budapest e no campo, na casa da tia Emy e seus parentes, em Keszthely.
Alexander Lenard iniciou seus estudos em casa – de maneira particular em outono de 1915. Nos primeiros anos, sua primeira professora foi sua tia Mariska Czirják, de quem Lenard recebeu sua primeira aula de poesia. O estudo foi interrompido por um semestre, dentro de uma tentativa de sua mãe em tentar colocá-lo no ensino fundamental, Escola Rácz, como membro da comunidade luterana, mas o pequeno Alexander deveria concordar com isto, o que não aconteceu.
Enquanto isto, com o término da 1° Guerra Mundial, os membros da expedição de seu pai – entre os quais estava o Dr. István Györffy, o renomado etnógrafo, e outros, feridos e machucados sob várias maneiras, conseguiram retornar para casa de barco e a pé. O pai de Lenard, Jenő Lénárd, não voltou para casa até 21 de janeiro de 1919. Ficou prisioneiro.

Entre o Fim da 1° Guerra e Início da 2° Guerra Mundial

A guerra acabou com o patrimônio da família. Perderam sua casa e voltaram a residir com tia Emy, desta vez, em outro endereço localizado quase em frente à Ópera de Budapest. Jenő Lénárd não teve dificuldades em conseguir um emprego, que conseguiu na empresa de transporte Atlântica, que era de propriedade de Jenő Polnay.
Na turbulência, após a queda do Conselho da Hungria, Jenő Polnay foi nomeado o primeiro Ministro da Nutrição Pública do Governo do primeiro funcionário interino de seu escritório e ele pediu a Jenő Lénárd para ser seu Secretário de Estado. Durante estes curtos sete ou oito dias, Jenő Lénárd tornou-se um funcionário público de alto escalão. Polnay não se juntou mais ao segundo governo de Friedrich, e a família Lenard viajou para Rijeka em 20 de agosto, onde o chefe da família deveria assumir a representação de Atlântica. A família alugou um apartamento na Via Trieste 20 e não tiveram problemas de adaptação porque Jenő Lénárd já estava residindo no local quando foi enviado para trabalhar. Jenő Lénárd logo matriculou Lenard na escola secundária húngara da cidade.
Depois que Jenő Lénárd conseguiu completar sua tarefa de recuperar os navios de propriedade da Atlântica, retornou a Budapeste com sua família. Sem perspectiva de emprego em uma cidade cheia de refugiados, também desempregados, conseguiu emprego em uma empresa de navegação com sede em Viena, a Intercontinental, porque falava fluentemente dez idiomas. Neste tempo, a mãe de Lenard permaneceu em Budapest com a filha e seu pai levou os garotos consigo, foi quando Alexander Lenard foi para Viena e iniciou seus estudos formais na Wiener Theresianum no início da década de 1920, na forma de internato e contava que la passava fome e frio. Era feliz quando se encontrava em casa, nos fins de semana, quando seu pai o levava para casa em Strohgasse no sábado à tarde, onde podiam ficar juntos, conversar e tomar chá. Lenard tinha na figura paterna, seu ídolo e o lembrava sempre na figura de um homem sábio que conhecia tanto a filosofia ocidental, quanto a oriental, que também fazia negócios na Alemanha, otimista, que aprendeu o significado de “torradas e chá” na Inglaterra.
Jenő Lénárd comprou uma pequena casa em Klosterneuburg, que estava sendo ampliada e em 1921, após o nascimento de seu terceiro filho, Karl (Cali), toda a família está novamente junta, o que não duraria muito.
Lenard permaneceu no internato apenas no primeiro semestre do ano letivo de 1921-22, e já havia concluído o segundo ano do ensino médio em Klosterneuburg, quando se formou aqui em 1928.
Lenard estudou em uma classe com doze alunos ilustres entre os dezesseis meninos. Nos anos do ensino médio, Lenard continuou seus estudos de piano, que começou, aos sete anos de idade e também, uma de suas paixões (e que não foi praticada em Dona Emma), o remo, natação e esgrima. Durante esses anos, Lenard manteve um diário e traduziu o material de poetas húngaros – Petőfi, Helta – para o alemão e tentou traduzir Fausto para o húngaro.
Seu pai Jenő Lénárd morreu de derrame, em 1924. O ocorrido perturbou a família que acabava de ficar juntos, recuperar a paz e o equilíbrio. A mãe se associou com um ex-parceiro militar de Jenő Lénárd, Dr. Barry. Entre outras coisas, eles operavam os serviços de ônibus Viena-Klosterneuburg e Viena-Budapeste. Com este último, Lenard visitou várias vezes Budapest, visitando vários parentes no verão.
Depois de se formar, ele se matriculou na Universidade de Viena, em 1928. Em uma autobiografia, ele escreveu: “Flutuei por muito tempo entre filosofia, filologia e ciências naturais. A inscrição era um processo administrativo complicado. Eu tinha um conhecido no escritório do reitor da faculdade de medicina que podia fazer isso rapidamente. Foi assim que escolhi a medicina, com a intenção de estudar outras disciplinas nas bibliotecas.” Até 1936, ele estudou por 14 semestres na faculdade de medicina – sete anos. Ele teve excelentes professores e ótimos colegas, uma relação que com alguns deles, como o poeta e escritor Egon Fenz, que foi mestre em poesia, ou até mesmo, um colega de classe na escola primária do mosteiro, Karl Adams, que levou para o resto de sua vida.
Lenard chama os anos vinte e trinta em um só lugar de “cinco horas de chá entre as duas guerras”. Durante esses anos, ele viajou extensivamente, visitando a Grécia, Dinamarca, Inglaterra e Tchecoslováquia, e também visitando Paris e Istambul. Ele procurou a companhia de médicos escritores, e juntos eles publicaram uma coleção de poemas em que publicou epigramas e algumas traduções de Ady e Kisfaludy.
Em 1930, numa viagem a Salzburg, conheceu Gerda Coste, de quinze anos, de Hof, norte da Baviera, com quem se correspondeu durante anos. Em 1935, Lenard relatou uma série de poemas termais sobre um amor por Elisenda, em seu artigo de 1946, My Poetic Development. Ele vive por um curto período no Schottenhof no centro de Viena, onde as paredes antigas, o grande piano e o pátio tranquilo se tornaram as musas”. Em fevereiro de 1936 se casou com Gerda Coste e seu filho Hans-Gerd nasceu em julho.
Lenard e Gerda se mudam para Grinzing, Sand Gasse. Lenard atua na prática, dá aulas, tenta ganhar dinheiro. Os arquivos da Universidade de Viena não guardam um documento que comprove sua obtenção do diploma de médico. A literatura era mais atraente. Ele também traduziu Silent Remover de Heltai e Carrying Something in Water de Zilahy. A carta de Heltai sobreviveu, descrevendo a tradução como “extremamente inteligente e em grande parte formalmente excelente”.
No final de 1937, Lenard voltou para Klosterneuburg e, um ano depois, Gerda voltou para a França com Hans-Gerd.

Mais tarde, Lenard encontrou somente seu filho e não mais Gerda. Mesmo assim, nunca deixaram de se corresponder. Ilona Lénárd, sua mãe, morreu em janeiro de 1938 antes da 2° Guerra Mundial. Sua irmã Johanna morava com seu marido, Dietrich Staël von Holstein, em Hamburg e depois na Suécia, durante os anos de guerra. Seu irmão Karl (Cali) primeiro morou com sua irmã e depois, se mudou para a Hungria.

2° Guerra Mundial

Alexander Lenard – um jovem que cresceu na cultura húngara e alemã, no meio da elite húngara e da Áustria, foi muito afetado pelas crescentes tendências nazistas. Ele teve que deixar a união estudantil, que excluía o povo judeu. A perseguição subsequente interrompeu ainda mais sua vida familiar. Embora fosse um cidadão húngaro, sua pessoa poderia representar uma ameaça para sua esposa e filho, que não eram judeus. Em sua reflexão, sua esposa Gerda e filho Hans-Gerd, este com 3 para 4 anos não eram judeus, de herança e Lenard imaginou, assim protegê-los. No final do verão de 1938 foi para a Itália com um visto de turismo, uma mala e sem documentos, com dinheiro para se sustentar com o mínimo, durante 2 meses e ficou 12 anos. Adolf Hitler havia anexado a Áustria na Alemanha. Foi um período turbulento, mas muito frutífero para sua poesia. Ele estudou francês intensivamente, conheceu e se apaixonou por Duhamel e por Babits. Ao partir para a Itália, levou consigo, a destilaria de sua avó, mas deixou seus poemas e a foto de seu pai. Todas as suas traduções e muitos poemas foram perdidos. O pesquisador Philippe Humblé disse que muitos de seus poemas e traduções ficaram para trás, sendo uma lacuna importante em sua obra. Lenard tinha 28 anos de idade.

“Eu vi a guerra chegar, resolvi fugir para Roma. Na realidade foi a guerra que me jogou fora do meu mundo, que me varreu, sem dinheiro, sem amigos, num país cuja língua eu desconhecia. Aprendi o sofrimento e, ao mesmo tempo, conheci Michelangelo e Pirandello”. Alexander Lenard

Como esconderijos em Roma, durante a guerra, escolheu, principalmente, a Biblioteca Nacional e o Vaticano. Não há informação se ele obteve seu diploma em medicina, mas em um texto do jornal O Estado assinado por Andrietta, ela afirma que Lenard concluiu o curso de medicina em 1938 (que são 10 anos – desde que iniciou). A literatura e a poesia eram muito atraentes para ele. Ele descreveu sua estada na Itália como um período muito produtivo para sua poesia. No início da Guerra, tentou se juntar ao exército francês em Basileia, como voluntário, mas não conseguiu. Escapou da atenção do regime fascista por não deixar “rastro de papel” (carteira de identidade, cartão de racionamento, etc.).

“Amo Roma, é minha floresta de Sherwood: suas grandes bibliotecas são os baluartes da liberdade de pensamento” Alexander Lenard

Alenxander Lenard e Andrietta Arborio di Gattinara em Roma.

Neste período de tempos nas bibliotecas de Roma, não leu nada publicado depois da Revolução Francesa, refugiando-se culturalmente em um período bélico da Europa e que tanto fez mal à sua alma. Nas bibliotecas italianas, Lenard dedicou-se a escrever tratados sobre medicina, muitos deles baseados em leituras de manuscritos médicos da Antiguidade e da Idade Média. Fazia pesquisas em história da medicina para a indústria farmacêutica. Trabalhou em traduções para sobreviver e, em parte, como ghost writer, escrevendo artigos científicos e teses. Neste tempo era fluente em 12 idiomas e autor de trabalhos publicados como: ficção, poesia, tratados médicos, livros com a história da culinária, e estudos linguísticos em cinco línguas (Húngaro, Alemão, Inglês, Latim e Italiano).
Ficou em Roma por mais de uma década. Inicialmente como imigrante ilegal e sem lugar fixo de residência. Foi morador de rua e passou fome. Dormia em bondes e em buracos das muralhas medievais da Cidade Eterna. Frequentava o Caffè Greco, junto com outros judeus refugiados que buscavam uma maneira de fugir. Como Lenard, haviam muitos esperando em vão, por um visto que os tirassem do “holofotes” fascistas e da zona de guerra e da perseguição antissemita. De acordo com as palavras de Lenard: “Duce fingia ser Napoleão”. Trocou seus serviços médicos por comida e abrigo e nas horas de folga voltou para as bibliotecas. Na biblioteca do Vaticano leu textos em latim até se tornar uma linguagem coloquial.
Sua vida mudou quando surgiu um aparelho de pressão arterial para aferir. Fez e começou a trabalhar nas farmácias, indo de porta em porta, atendendo as pessoas pobres de Roma, o que melhorou a sua situação. Em 1942, conheceu Andrietta Arborio di Gattinara, estudante de Filosofia na Universidade Católica de Roma, em um seminário universitário.

Andrietta foi sua segunda esposa. Ambos participaram da resistência italiana quando os alemães recapturaram Roma em 1943, abrigando aliados em seu pequeno apartamento, um estúdio todo envidraçado na Via Babuino, último andar da Casa 48, que abrigava um piano além da destilaria.
Neste tempo, Lenard já mede pressão arterial e realiza tarefas médicas, escreve várias dissertações por um salário modesto e estuda história médica. Não se sabe se ele obteve seu doutorado neste período. No entanto, usará esse título mais tarde.

Pós 2° Guerra Mundial

Em 1944, Andrietta completou seus estudos universitários e conseguiu um emprego de secretária em uma editora. Seu filho, Giovanni Sebastiano Lenard, nasceu em fevereiro de 1946. O processo de divórcio entre Alexander e Gerda foi demorado em função do conflito internacional, mas aconteceu, e assim que formalizado, ele e Andrietta se casaram em 1950.
Nos primeiros anos após a guerra, Lenard trabalhou para o Exército dos EUA. Foi médico do Serviço de Reclamações. Após 1948, exumava os cadáveres de soldados americanos, em Nápoles, como antropólogo-chefe do Serviço de Registro de Túmulos. Este é o episódio de Ressurreição e Morte de Frágil Habaku, publicado em 1953, na Cultura de São Paulo.
Foi médico da Academia Húngara de Roma onde conheceu nomes da literatura húngara contemporânea, com alguns dos quais se correspondeu ao longo da vida. Foi intérprete de conferências e traduziu para o italiano, o livro do escritor húngaro Ferenc Molnár, Őszi utazás (Viaggio in autunno), em 1946.
Retornando a Roma, Lenard realizou vários trabalhos casuais. Fez amizade com o diretor da Academia Húngara em Roma, Tibor Kardos e também, se comprometeu a se tornar médico com um salário modesto. Neste momento, conheceu os principais nomes da vida intelectual húngara como: Sándor Weöres e Amy Károlyi, Károly Kerényi, Ferenc Karinthy, Bence Szabolcsi, Ágnes Nemes Nagy, Balázs Lengyel ou Tibor Déry. Foi então que ele começou a publicar profissionalmente. Ele publicou em francês-inglês-alemão-italiano-latim-húngaro. Publicou a tradução italiana da Viagem de Outono de Ferenc Molnár em 1946 e em 1947, seus livros sobre a história da medicina, a história médica do Controllo della concezione e limite della prole e De officio medici (este último na Academia Húngara de Roma) foram publicados em 1950. Em seguida, publicou um livro sobre parto indolor e um livro de pediatria. Também traduziu livros sobre maternidade e vida sexual para o italiano.
Nesse período, começa a publicar seus poemas. Seu primeiro livro de poemas foi publicado em 1947.

Migração para o Brasil

A sensação de sobreviver a duas guerras mundiais, na vida de Lenard, Keuly Dariana Badel diz que é muito clara, assim como o medo de que ocorreria uma terceira guerra. E foi esse medo que o trouxe para o Brasil, em um ato de auto-exílio.

“A preocupação com a morte passa a ser um enunciado constante em seu livro. A “morte”, para ele, representa muito mais do que uma palavra pronunciada, representa um elo entre o seu passado e o seu futuro. A Guerra proporcionou um contato constante com a morte, explicitado no momento em que volta ao seu passado, e também quando escreve sobre a sua situação atual. Em suas memórias se autodenomina como anjo da morte, pois, segundo ele, somente era convidado para ir às casas das pessoas, quando alguém morria.” BADEL

Ele escreve sobre:

“Eles ainda sabem a língua dos pais: e Dorothea, a pequena brasileira, anuncia minha chegada. “O velho doutor já chegou”. Talvez esta seja imagem que todos têm de mim, não é a correta: é que compartilho com eles os momentos de extrema ansiedade. As casas são construídas para que pessoas possam morar nelas, e sejam alegres nelas, e eu chego quando alguém está sofrendo. Por isso para mim, as imagens idílicas sempre serão mais tristes, quanto mais fundo eu as vejo. (LENARD, 1963, p. 19).

Alexander Lenard ficou cada vez mais preocupado com a perspectiva de outro grande conflito mundial. Os conhecidos acadêmicos húngaros, Ferenc Karinthy e Dr. György Szánthó estavam tentados trazê-lo de volta à Hungria. Szánthó, que trabalha no Ministério da Religião e Educação Pública, não apenas o convidou para uma conferência médica no verão de 1948, mas também ofereceu um cargo na biblioteca central. Lenard diz que a perspectiva de uma posição no departamento de história médica, talvez o chefe do departamento, também foi discutida. No entanto, ele não pensava na Hungria e não tinha uma opinião muito boa sobre os comunistas. No entanto, tinha convicção de que a Guerra Fria culminaria em um 3° conflito mundial e não desejava mais passar por isto.
Seu amigo e seu parceiro de piano em Roma, o pianista István Nádas, já está lhe enviando cartas retumbantes da Venezuela. “Dedique-se, velho, e venha aqui para a América do Sul, aqui está o futuro, e você não precisa se preocupar com o amanhã nem com o pão de cada dia! … venha o mais rápido possível!!! A guerra já está batendo na porta dos próximos meses!” No momento em que muda o tom das cartas do artista, inicialmente entusiasmado, quando relata sobre o suicídio de sua mãe, que não suportava a saudade, sobre o deserto espiritual, os Lenard’s já haviam chegado em América do Sul, em 1952. Ainda na Europa, Lenard trabalhou regularmente para o IRO, a Organização Internacional de Asilo. Ali ele soube que, embora suas qualificações médicas não fossem reconhecidas, ele poderia emigrar para o Brasil como químico e poderia praticar a medicina, como capelão.

“O Brasil parecia grande e verde no mapa. Eu escolhi isso.” Alexander Lenard

Atracou na Ilha das Flores, na Baía da Guanabara, em 15 de fevereiro de 1952, com a idade de 42 anos. Veio com sua família, esposa Andrietta e filho Giovanni, com 6 anos. Seu outro filho, Hans-Gerd, neste tempo contava com 16 anos de idade. Lenard e a família chegaram em Santa Catarina somente 4 anos depois que chegaram no Brasil. Antes disso, Lenard trabalhou no Paraná e em São Paulo. No Paraná, trabalhou como enfermeiro em uma mina de chumbo, e foi demitido porque alertava os mineiros a pararem de trabalhar na mina, pois se intoxicaram.
De 1953 a 1956, Lenard trabalhou como assistente do cirurgião Dr. Egberto Silva. Medicina para todos, lança revista de saúde em língua portuguesa. Conhece o pequeno, mas exigente, círculo da revista Kultúra, cujo editor e livreiro de Dezső Landy, é Imre Kende. Começa a escrever para a revista. Suas resenhas de livros e críticas de cores aparecem, ele publica lembranças anedóticas e depois começa a publicar suas lembranças romanas em húngaro. Ele publica um trecho de Roma de 1938 (junho de 1955) e então, em duas semanas, começa a publicar em detalhes sua publicação posterior, Roma 1943.

Amante da música e do piano, participou do programa televisivo “O Céu é o Limite” lançado pela TV Tupi em 1955, respondendo sobre Johann Sebastian Bach, seu ídolo. Em rede nacional respondeu sobre o compositor e ganhou o prêmio máximo, o suficiente para adquirir uma farmácia em Dona Emma. Soube que a igreja luterana da cidade possuía um harmônio onde pôde tocar.

Foi em 1956, com 46 anos, que Alexander Lenard teve seu primeiro derrame e também, foi quando chegou no município de Dona Emma e “criou” a “Casa invisível”. Andrietta Lenard lecionava francês, primeiro em Blumenau e depois, na Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, em de Florianópolis. 

Instalado em Dona Emma com a família da época, entregou-se às duas atividades que lhe deram prazer: plantar árvores e executar Bach ao piano. Quando precisava de dinheiro, viajava aos Estados Unidos para dar cursos sobre poesia, latim e grego. É claro, que também atendia os pacientes e a farmácia. 

Pensando nas crianças, em 1958 traduziu do inglês para o latim, a história infantil do Ursinho Pooh, de A. A. Milne, livro que se tornou best-seller do The New York Times, na década de 1960. No ato da escrita, Lenard não se oculta na terceira pessoa do singular e escreve a partir do eu e acaba construindo um autorretrato sobre o mapa de Dona Emma, vendendo mais de 100.000 exemplares, em sete edições consecutivas.

Em linha reta – distância entre residência de Lenard em Dona Emma e Blumenau.
Alexander Lenard saindo de sua residência em Dona Emma SC.

O Vale de Dona Emma apareceu no Fim do Mundo, em 1967. Além do livro de Anna Lesznai, este foi o segundo trabalho desde a virada do ano, escrito por um autor de emigração ocidental e publicado na Hungria. O livro foi um grande sucesso. Klára Szerb também pediu a Lenard que lhe enviasse um manuscrito de histórias romanas. Este livro foi publicado em 1969, elogiado por Tibor Kardos, ex-diretor da Academia Romana. Incentivada por Klára Szerb, Lenard resumiu um dia e seus pensamentos em um trabalho intitulado Um dia na casa invisível. A obra foi publicada em húngaro em 1969, seguida pela edição alemã, em 1970.
Seu livro de receitas incomum sobre a história da cultura, Roman Cuisine, foi publicado em Stuttgart, Alemanha . Ele publicou uma série de apresentações de rádio, em sete idiomas, em 1964.
Apenas as publicações em forma de livro foram mencionadas acima. No entanto, Lenard também escreveu vários artigos de jornal. Também trabalhou em história médica durante esses anos, relatando na imprensa local e internacional de línguas alemã e inglesa sobre a história dos assentamentos suábios em Santa Catarina e a vida cotidiana dos colonos.
Lenard passava a maior parte de seus dias praticando medicina na localidade de Dona Emma, curando e também, na jardinagem da “Casa Invisível”. Tinha um impressionante número de correspondentes. De fato, suas cartas podem ser consideradas seu trabalho de oficina. Ele primeiro expressou seus pensamentos nessas cartas, muitas vezes dezenas por dia. Entre seus correspondentes, estavam os nomes, como Robert Graves, mas principalmente, editores, poetas, pessoas com interesses literários e latinistas de todo o mundo.
Em 1966 foi entrevistado pelo jornalista Salim Miguel, da revista Manchete do Rio de Janeiro, afirmou:

Salim Miguel.

“No pequeno vale perdido em Santa Catarina, o homem – alto e forte, de testa ampla e olhos inquietos – se chama Alexander Lenard, humanista e agnóstico, poliglota e apátrida. O Dr. Lenard cultiva a terra, medita, escreve, toca piano, pinta, atende com seus conhecimentos médicos à população local e fez um livrinho em latim tornar-se best-seller mundial, com a tiragem de 150 mil exemplares e renda de 200 mil dólares, após a 17ª edição”. Salim Miguel

Os “Caçadores” de Nazistas no rastro de Lenard

Desde 1968, ele passou o dobro do tempo nos Estados Unidos. Ensina latim e grego antigo no Charleston College, Carolina do Sul. Um volume de poemas de uma poetisa brasileira e alemã, Karin Sigrid, aparece com suas ilustrações. Foi nessa época que o escândalo Mengele explodiu ao seu redor, o que o cansou muito. Em 1968, o jornalista/policial Erich Erdstein, suspeitou que Lenard fosse o criminoso de guerra nazista Martin Bormann e enquanto Lenard lecionava nos Estados Unidos, com a polícia, vasculhou sua casa, descobrindo documentos relacionados à medicina e o quadro de Bach confundido com Hitler, acusando-o de ser Josef Mengele, outro nazista procurado. Não bastasse toda a dor que as guerras lhe proporcionaram.
Em 1970, publicou o volume de seus poemas selecionados, em Blumenau, traduzindo para o romance “Os sete dias de Bogatir”, do alemão, György G. Kardos.
Um Trabalho de Conclusão do Curso de História da Universidade Federal de Santa Catarina apresenta esta passagem detalhada do início ao fim.

Muito curioso com toda essa situação, Erdstein vai até a propriedade de Alexander Lenard em Dona Emma, que fica a cerca de quarenta minutos de Rio do Sul. Ao chegar ao local, o investigador se passando por um jornalista bate na porta dos vizinhos para perguntar a respeito do Dr. Lenard. O policial sente um ar de hostilidade para com o médico por parte dos vizinhos que afirmam que o doutor “se julga um senhor feudal, não se rebaixa a falar conosco”. Erich para em uma pequena venda onde a dona fala sobre a governanta da casa, Natalie Klein (…) Gabriela Goulart Nascimento

Obra

Escreveu e publicou muito e é fácil de encontrar suas obras. Sua produção mais destacada aconteceu quando faleceu e dos escritos feitos em Dona Emma – “O Vale do fim do mundo” publicado pela editora Cosac Naify, em 2013, com tradução de Paulo Schiller. O livro original “Völgy a világ végén s más történetek” (O vale do fim do mundo e outras histórias), é uma edição organizada um ano após a morte de Lenard, pela Magvető, na Hungria, em 1973. É um compilado de outros três livros com aspectos autobiográficos editados em vida, que são: “Római történetek” (Histórias romanas); “Egy nap a láthatatlan házban” (Um dia na casa invisível), ambos de 1969; e “Völgy a világ végén” (O vale do fim do mundo), de 1967.

Além de inúmeros livros publicados pelo mundo em alguns idiomas, Lenard também inspirou o Cinema. Em 2009, no Festival de Cinema de Nova York houve a estreia do filme “The Last Happy Day”, de Lynne Sachs, uma releitura experimental da história de vida de Lenard a partir da perspectiva do cineasta. O filme apresenta cartas inéditas das décadas de 1940 a 1970 escritas por Lenard para seus parentes, além de entrevistas e fotos de arquivo. Um ano após a estreia do filme, o Hungarian Quarterly publicou um ensaio de Sachs junto com algumas das cartas de Lenard.

Traler

“Lenard vivia momentos distintos – em determinado momento era reconhecido como professor de universidades nos EUA e, de repente, era alguém desconhecido em Dona Emma. Controvérsias não só de um homem, mas da própria complexidade que é a vida.” BADEL

Para os habitantes do município de Dona Emma, até pouco tempo, a maior façanha do Dr. Alexandre, desde que chegara ao Brasil em 1952, tinha sido aparecer na televisão em 1956, respondendo sobre Johann Sebastian Bach, um profundo conhecedor da obra, no programa “O Céu é o Limite”.
Pelo estado de sua casa e local onde foi sepultado, pode ser que as pessoas e família ainda não se deram conta do valor de seu trabalho.

Propriedade – Patrimônio Cultural de Santa Catarina e de Dona Emma

A Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí – AMAVI efetuou o registro do local histórico somente em 2006, 34 anos após a morte de Lenard.
Em seu cadastro consta a localização no município de Dona Emma, como Sítio e Residência de Alexander Lenard. Nesta época a proprietária ainda era Andrietta Lenard, que residia em São Paulo, desde o falecimento de Alexander Lenard.
A Casa foi construída em 1953 na Estrada Geral do Bairro de Nova Esperança, município de Dona Emma – SC.

Alexander Lenard em sua propriedade em Dona Emma.

Histórico da AMAVI – 2006

Texto no registro da AMAVI.

“Breve Histórico do Imóvel: Em 1953 Alexander Lenard com os poucos recursos de que dispunha comprou um pequeno sítio na encosta do vale, no lado esquerdo da estrada em direção a Nova Esperança e lá construiu uma casa simples de madeira. Em 1956, respondendo sobre Johan Sebatian Bach no programa “O Céu é o Limite” promovido pela TV Tupi, ganhou um prêmio em dinheiro equivalente a dois mil dólares. Com esses recursos pode construir uma casa melhor, dando-lhe mais conforto para as atividades intelectuais e mais comodidade para atender as pessoas enquanto médico.
A casa continua com suas características de construção e hoje é preservada por uma pessoa responsável que cuida do local com bastante afinco. Aos fundos, pouco acima da residência, encontra-se o túmulo do Falecido Alexandre Lenard. Esse túmulo é visitado por muitos turistas que visitam a região.
Uso Original do Imóvel: Encontra-se fechada.
Proposta de Uso para o Imóvel: Ótimo lugar para uma pousada, museu histórico, e ponto turístico se a família investisse no negócio.
Estado de Conservação Atual do Imóvel: Bom.
Caso o Imóvel passou por alguma reforma, descrever como e quando foi feita a mesma e quais os materiais que foram utilizados nessa(s) (tijolo, cimento, argamassa, etc). A residência recebe manutenção por pessoas encarregadas pela própria família.
Observações Gerais/Curiosidades sobre o Imóvel: A sua casa e seu sítio Lenard descreveu da seguinte maneira:

‘Preciso respirar fundo quando escrevo sobre minha casa e tenho que me convencer disto para escrever, também desta vez, a pura verdade. A casa não é um sonho. Encontra-se a duzentos passos da estrada, com salgueiros em frente e laranjeiras em volta. Minha propriedade, incluído o mato até a encosta da serra, tem quatro hectares. O terreno já produziu bom aipim mas agora está coberto com uma dúzia de árvores oleaginosas, uma nogueira, um pequeno vinhedo, castanhas, damascos, caquis e macieiras. São quatro hectares à disposição do verde e para servir. Minha casa – digo-o com orgulho – tem mais cantos que todas as outras. Às vezes é casa para café onde estão à disposição, na mesa, manteiga e mel. Às vezes é uma casa triste; às vezes é minha terra natal.’ Alexandre Lenard.

Nome e Assinatura do Agente Cultural: Neide Chiminelli
Data do Preenchimento do Formulário: 25/05/2006.”

Registro na Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí – AMAVI

Também encontramos registros da edificação histórica e a propriedade no levantamento do FCC – Fundação Catarinense de Cultura. Este levantamento está mais completo, embora, também tenha sido feito somente em 2006. 

De acordo com o FCC, a casa e a propriedade estão localizados na Rua Alberto Koglin, S/N°.

Histórico da Fundação Catarinense de Cultura FCC – 2006

Há dados errados neste fichamento e também deixo claro a cópia xerox do fichamento da AMAVI. Esta personalidade merecia mais atenção.

Em sua nova pátria – Dona Emma – para onde se mudou em 1953, ele se tornou pouco notório.

Ficou mais conhecido nos países de língua inglesa e na Alemanha onde teve publicado muitos de seus escritos. Seus livros traduzidos para o inglês pertencem à literatura escolar nos Estados Unidos e Grã-Bretanha. Com para os demais imigrantes, para Lenard foi penoso o começo em Dona Emma. Com os poucos recursos de que dispunha comprou um pequeno sítio na encosta do vale, no lado esquerdo da estrada em direção a Nova Esperança. Lá construiu uma casa simples, de madeira. Em 1956, respondendo sobre Johan Sebatian Bach no programa “ O Céu é o Limite” promovido pela TV Tupi, ganhou um prêmio em dinheiro equivalente a dois mil dólares. Com esses recursos pode construir casa melhor, dando-lhe mais conforto para as atividades intelectuais e mais comodidade para atender as pessoas enquanto médico. Sua casa e seu sítio Lenard descreveu da seguinte maneira: Preciso respirar fundo quando escrevo sobre minha casa e tenho que me convencer disto para escrever, também desta vez, a pura verdade. A casa não é um sonho.
Encontra-se a duzentos passos da estrada, com salgueiros em frente e laranjeiras em volta. Minha propriedade, incluído o mato até a encosta da serra, tem quatro hectares. O terreno já produziu bom aipim, mas agora está coberto com uma dúzia de árvores oleaginosas, uma nogueira, um pequeno vinhedo, castanhas, damascos, caquis e macieiras.
São quatro hectares à disposição do verde e para servir. Minha casa – digo-o com orgulho – tem mais cantos que todas as outras. Às vezes é casa para café onde estão à disposição, na mesa, manteiga e mel. Às vezes é uma casa triste; às vezes é minha terra natal. FCC

Arquitetura – Análise

“Outro talento de Lenard foi o piano. Também tinha amor pela obra de Bach, e por isso participou, em 1956, do programa promovido pela TV Tupi, cujo título era “O Céu é o Limite”, respondendo a questões sobre Johann Sebastian Bach. Ganhou o prêmio máximo, e com ele construiu nova casa em Dona Emma.” (DIRKSEN, 1996).

Área do Terreno: 4.858,00 m²
Área de edificação: 151,88 m²

A edificação histórica é feita com uma técnica construtiva mista, de um pavimento só, contando com a presença do porão, que faz o papel de mais um nível. Sendo este porão, feito de alvenaria autoportante com tijolos maciços aparentes. O pavimento térreo foi construído com madeira, na estrutura e no fechamento. Aberturas em madeira e Estrutura do telhado, também em madeira, coberto com telhas planas ou rabo de castor. Há um jogo de panos de telhados, prevalecendo 4 águas em níveis diferentes.

Acesso principal à casa – escada externa, de tijolos, com acesso à varanda.
Aos fundos – tanque de roupas.

A propriedade de Lenard, em Dona Emma, foi muito importante para ele, tanto que fez o pedido para ser sepultado na propriedade. Lenard descreveu estas terras assim:

“O terreno da casa até a Serra é meu. Um reino de quatro hectares, que desta vez, a exemplo de outros reinos, possui aipim e batata-doce, este ano de uma boa colheita de milho, e aonde existe espaço na mata pretendo ainda plantar arbustos e flores raras. Como única planta rara, tenho um bonito e amarelo narciso da Áustria. “Esta orquídea eu nunca vi” me disse uma amiga que gosta de flores. Durante muito tempo pedi a todos os amigos distantes, sementes de plantas raras, até descobrir, que ninguém havia tentado ter um jardim, pois as flores rapidamente florescem e morrem no meio da pastagem. Ninguém é tão ligado nestas coisas como eu, tentando tirar o possível de ervas daninhas e capim.” (LENARD, 1963, p. 56).

“Tenho que respirar fundo quando falo da minha casa, e tenho que me certificar que também utilizarei apenas a verdade. A casa não foi sonhada, ela está a uns duzentos passos da estrada, pastagem na frente, árvores de laranja ao redor e até onde começa a subida da Serra o terreno é meu: quatro hectares, que já tiveram aipim de boa qualidade e agora, estão com uma dúzia de oliveiras, uma nogueira, uma pequena videira, uma horta que está à espera de castanhas, laranjas e maçãs – quatro hectares para cultivar e servir. Minha casa – digo orgulhoso – é mais versátil do que as outras. Às vezes é uma casa de lanche, e leite, manteiga e mel estão a disposição na mesa. Algumas vezes é uma casa triste e outras é a minha pátria. Nela também existe uma flecha de botocudo. Eu amo esta casa.” (LENARD, 1963, p.52).

“A saudade é aplacada nas bibliotecas e nas músicas tocadas nos órgãos. Eu possuo a “Arte da Fuga” e todos os 48 prelúdios e fugas. Por isso sou um assíduo frequentador da igreja em Dona Emma. Não existe apenas uma realidade, também existem outras dimensões. Elas estão separadas por espaços entre as estrelas. A realidade da capinação é a primeira, a medicina a segunda e a música a terceira. E é nesta que gosto de vagar aos domingos para sair de todas as outras. Aí desaparecem todas as pragas, ali desaparece toda a dor e gemido.” (LENARD, 1963, p. 25)

Pesquisando.

“Mostram o Lenard o pianista de Charleston, e o Lenard o pianista de Dona Irma. Observando as fotografias, pode-se fazer uma análise da sua vida em Dona Emma e da sua vida nos EUA, e percebe-se que elas procuram demarcar a diferença entre o moderno e o atrasado, o urbano e o rural.” BADEL

Tocando piano nos Estados Unidos.
Tocando piano em Dona Emma.

Desenhos

Seus desenhos – principalmente flora local.

Autorretrato em Roma

Dona Emma – nos seus Desenhos

De acordo com Keuly Dariana Badel, a paz que Lenard tanto procurava, tornou-se um conflito interno, entre a solidão, a saudade e ao mesmo tempo, a possibilidade de ter uma vida que o aproximava dos dias de sua infância, antes da 1° Guerra Mundial. Ao escrever sobre a vida em Dona Emma, escreve sobre o seu sofrimento ao se relacionar com as pessoas:

“É mais fácil abrir os portais de uma cidade do que as suas portas. As portas destas casas não têm fechaduras, mesmo assim raramente alguém entra nelas. Eu agradeço ao costume de se chamar o médico quando as pessoas estão morrendo (senão o que diriam os vizinhos?), de modo que atravessei várias portas. Doentes que conseguem andar vêm para a farmácia, crianças são carregadas, o pretexto para entra numa casa é raro.” (LENARD, 1963, p. 42).

Lenard fez questão de cuidar pessoalmente de sua morte. De acordo com o Lenard Seminar Group (2009), antes de morrer ele mandou fazer seu próprio terno para o enterro. A preocupação com a morte também aparece no pedido judicial, no qual solicitava ser enterrado em sua propriedade, em Dona Emma.
Em 10 de abril de 1972 foi nomeado o Juiz que permitiu que Lenard fosse enterrado no local que desejava. Chama a atenção que, a mesma importância encontrada no relato do juiz referente ao cemitério, também é encontrada no discurso de Lenard, que acreditava que os cemitérios deveriam ser respeitados, sentindo-se incomodado com a falta de cuidado com os mesmos. Ele disse:

“No cemitério protestante de Roma (onde descansa um filho de Goethe e um neto de Bach) as amoras silvestres crescem pelos túmulos. E se eu fosse chamado à eternidade e estivesse no cemitério de Dona Emma, também iria preferir que fossem estas bagas silvestres ao invés de samambaias selvagens. (LENARD, 1963, p. 56)

As consequências do estresse, sobrecarga de trabalho, mas, na opinião de Lenard, principalmente, consequência das tristezas herdadas – fez acontecer um derrame e uma paralisia do lado direito. Ele faleceu de um ataque cardíaco em 14 de abril de 1972, 4 dias após o consentimento do Juiz sobre o sepultamento em sua propriedade, com a idade de 61 anos. Com um legado imensurável – deixado como escritor, poeta, médico, desenhista, pesquisador, antropólogo, músico, tradutor entre outras coisas mais.
Como já mencionado, a justiça concedeu-lhe o pedido de ser sepultado em sua propriedade, e ele planejou tudo. Ele comunicou sua morte ao mundo em uma newsletter manuscrita e bem ilustrada nos 5 idiomas que fizeram e foram mais importantes em sua jornada. No seu velório foi tocado Missa, em Si menor, de Johann Sebastian Bach e toda a população de Emma Dona estava presente.
Seu túmulo está plantado sozinho, ao pé de pinheiros que plantou (e que não existem mais).

O município de Dona Emma deveria cuidar com muito carinho deste lugar, pois foi escolhida.

Missa- Si menor – Johann Sebastian Bach

“O que a história da humanidade nos reserva no futuro, não sabemos, apenas ouvimos falar que “não atingirá apese nas as terras do Cristianismo, mas sim também aqueles que não creem” – e enquanto isso, eu estou acostumando os ouvidos jovens de Donna Emma a uma arte de música, que é totalmente diferente do que aquela sai dos rádios.” (LENARD, 1963, p. 25).

“Eu gosto do cemitério, porque ele é livre de falsidade e mentiras. Se mesmo com o que estou escrevendo, eu não atinja um pouco de imortalidade, ninguém irá me negar um epitáfio no meu túmulo.” (LENARD, 1963, p. 24).

Manifestações espontâneas

“Madame Andrietta Lenard foi minha professora de francês, no colégio Pedro II. Era também diretora da Aliança Francesa.” Zilair Schoepf

“Entre o legado literário deixado por A.L., existe uma coleção, toda em latim, na qual ele atribui a figura de um animal a cada um dos Imperadores Romanos.. Eu li, há muitos anos, um escrito e publicado na Alemanha, na década de 1960. O título do livro é bem pitoresco: Die Kuh auf den Past (A vaca no pasto). Nesse livro ele retrata situações da vida cotidiana em que as pessoas, aqui de nossa região, incorrem ao falar português e alemão misturado.” Gelmar Vollrath

“Madame Andretta foi também minha professora de francês. Não lembro agora o nome porém tinham um filho poliglota que estudava no Pedro II.Uma figura muito interessante e pouco conhecida em nossa região. Escreveu várias obras interessantes sobre a região de Dona Emma. A esposa italiana, madame Andrietta Arborio di Gatinnara Lenard, era uma nobre da região de Milão. A família dela deu origem ao nome do arroz que usamos para risotos. Andrietta foi deserdada ao casar com o judeu húngaro Alexander ( Xandór) Lenard. Madame Andrietta falava fluentemente 8 línguas, enquanto Xandór escrevia em 13 idiomas. Interessante que dependendo do assunto o escritor preferia determinadas línguas. Jamais escreveu em português. Há alguns anos teve a primeira obra traduzida para o nosso idioma. A esposa Andrietta ,junto com o filho Giovanni, vivia em Blumenau e dava aulas na Furb e no Colégio Pedro II. Mais tarde prestou concurso e passou a lecionar francês e literatura na UFSC. Visitava o marido aos finais de semana. Ao enviuvar mudou-se para São Paulo e se aposentou pela USP. Tive o privilégio de conhecê-la já mais idosa, no período em que ela morava em São Paulo. Uma personalidade extraordinária e inesquecível!” Rudolfo Weickert

“Que interessante resgate, Angelina. Pensei em encontrar durante a leitura aspectos de caráter familiar. Parece-me ter sido uma pessoa solitária, fugitiva e que penava em ser aceito com mais prazer por uma comunidade fechada. Pergunta-se: o que terá sido feito com os bens dele?” Viliam Oto Boehme

A Casa de Alexander Lanard não está no Site da AMAVI Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí – Dona Emma – no setor “Destaques turísticos e culturais”.
Isto é surpreendente.

Registro fotográfico de Adolar Hörmann Bolinha – 2009

Notícias da propriedade em julho de 2022

Recebemos a informação de que Alexander Lenard teria tido seus restos mortais retirados do local que escolheu para ser sepultado e também sua esposa, em 2011, quando partiu. conversamos com Bettina que gentilmente no encaminhou uma fotografia feita em 2021 que atesta que nada foi feito diferente da vontade de Alexander e agora de seu filho Giovanni Lenard.

Giovanni Lenard e Andrietta Lenard.

Andrietta Lenard partiu em 26 de novembro de 2011 e foi sepultada junto com seu esposo Alexander Lenard em Dona Emma, pedido seu, e que foi providenciado por seu filho Giovanni.

Citações do Livro “Dona Emma – Centenário de Colonização” publicado pela Prefeitura Municipal, enviados por Bettina Staudinger.

Vídeo

Para completar este trabalho, em setembro de 2022 fomos até a centralidade do município de Dona Emma, sem saber muito bem onde estava localizada a Casa Lenard. Perguntamos a um grupo de senhoras que passeavam na praça da Prefeitura, sobre Lenard e sua casa. Pouco sabiam sobre o escritor pesquisador. Destoa muito de sua obra, conhecida fora do Brasil, uma personalidade, conhecido pela obra.
Recebemos a informação de uma pessoa, onde estava localizada a comunidade Nova Esperança, (o nome da comunidade combinava com Alexander Lenard quando buscou um lugar sereno e com paz). Seguimos no único caminho até o local e quando tínhamos rodado mais ou menos 5 km, perguntamos novamente. A pessoa disse: “passaram um pouco. Voltem e quando encontrarem um bambuzal, perto de um ponto de ônibus entrem no lado do bambuzal.” Foi fácil. Procuramos o local onde Lenard e sua esposa poderiam estar sepultados e não encontramos.
Anotamos o número do telefone, presente em uma placa publicitária que tinha relação com a propriedade. Telefonamos, de Blumenau, para o atual proprietário e sua esposa: Horst e Wilma Schmidt. Ele nos informou que a lápide do local onde estão sepultados está em processo de manutenção, recebendo nova pintura. A pedra original da lápide colocada na década de 1970 foi trocada pelo filho Giovanni Lenard e este orientou que não se deve tornar o local em um local comercial somente, para “se ganhar dinheiro” com a memória de seus pais, que se assim fosse, com certeza, destoava das práticas de Alexander Lenard. Enquanto aguardávamos o retorno dos proprietários, andamos em torno da casa e buscamos algum resquício da presença de seu proprietário. Retornaremos, para fazer o que não conseguimos fazer o registro e visitar o local onde descansa Alexander Lenard.

Algumas imagens – setembro de 2022

Maple tree plantada por Alexander Lenard na frente da casa construída por ele.
Maple tree plantada por Alexander Lenard.
Na Varanda, que compõe a fachada frontal.
O porão é encrustado no solo, oportunizando a geografia do terreno.

Marlene Siegle Schonrock e Bettina Staudinger de Ibirama SC, motivadas por esta pesquisa e seus questionamentos, foram ao local e conversaram com Horst Schmidt em 17 de setembro de 2022. Verificaram o local de descanso dos Lenard’s e ouviram de Herr Schmidt (atual proprietário do terreno) que ele retirou a lápide para efetuar manutenção nos registros dos dados que se encontravam apagados. Refazer a pintura, como havia nos falado via telefone. Marlene e Bettina colocaram flores ao casal.

Haviam muitos rumores e também soubemos que haviam retirado os restos mortais dos Lenard do local, o que não confere.

Um registro para a História.

Referências

  • LENARD SEMINAR GROUP. Alexander Lenard. Disponível em: <http://mek.oszk.hu/kiallitas/lenard/indexeng.html>. Acesso em: 24 jun. 2022 – 22:09.
    BADEL, Keuly Dariana. A escrita de si e do outro: Uma biografia de Alexander Lenard (1951 – 1972). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1308147924_ARQUIVO_ArtigoEscritadeSiedoOutroAnpuh2011.pdf> . Acesso em: 24 jun. 2022 – 16:06h.
  • Family Search. Dr. Sandor Lenard. GW7P-FG9. Disponível em: <https://www.familysearch.org/tree/person/sources/GW7P-FG9> . Acesso em 24 de junho de 2022 – 18:45h.
  • FCC – INVENTÁRIO PATRIMÔNIO CULTURAL DE SANTA CATARINA. Fundação Catarinense de Cultura. Sitio e Residência de Alexander Lenard. Disponível em: <https://www.amavi.org.br/arquivos/amavi/areas-tecnicas/cultura-turismo/ph/estadual/dona_emma/Sitio%20e%20Res%20Alex%20Lenard.pdf> Acesso em 23 de junho de 2022 – 23:15h.
  • LENARD, Alexander. A római konyha, 1986. Disponível em: <http://mek.oszk.hu/02700/02763/html/>. Acesso em: 24 de junho de 2022 – 15:07.
    LENARD, Andrietta. Em Memória de Alexander. O Estado. 11 de maio de 1980. Florianópolis.
  • LENARD, Alexander. Die kuh auf dem bast: aus den erinnerungen eines arztes. Blumenau: editora, 1963. Tradução: EGERLAND, Marcos.
  • NASCIMENTO, Gabriela Goulart. Erich Erdstein e a caça a nazistas:Um estudo sobre o livro “O Renascimento da Suástica no Brasil”.Orientador(a): Prof. Adriano Luiz Duarte. Universidade Federal de Santa Catarina – Centro de Filosofia e Ciência Humanas – Departamento de História. Florianópolis, 2021. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/224500/TCC%20Erich%20Erdstein%20e%20a%20ca%C3%A7a%20a%20nazistas%20-%20Gabriela%20Goulart%20Nascimento.pdf?sequence=1> Acesso em: 25 de junho de 2022 – 00:48h.
  • PÉTER, Rosenmann. Lénárd Sándor. Web-lapozgató,30 de november, 2004. 06:57 JNA24 médiafigyelő, Magyar Rádió. Disponível em: https://regi.sofar.hu/2004/11/30/web-lapozgato-lenard-sandor/. Acesso em: 23 de junho – 4:56h.
  • WITTMANN, Angelina. Alexander Lenard – Sándor Lénárd – Escolheu Dona Emma SC. 24 de junho de 2022 . Disponível em: https://angelinawittmann.blogspot.com/2021/12/ziggi-e-ingo-duas-personalidades-em.html . Acesso em: 18 de outubro de 2022 – 9h11.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
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Em breve – Estaremos lançando o livro: “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna. Aguardem.