Biografia – Vilmar Vidor *05/05/1948 +25/11/2015
Uma das fotografias que o professor Vilmar Vidor mais gostava. Curso de restauro de estrutura enxaimel ministrado por Manfred Gerner na, então, residência de Ari Franz – Vila Itoupava – Blumenau SC  – 12 a 16 de agosto de 1996. Manfred Gerner é um dos maiores especialistas da pesquisa do enxaimel, ao lado de Conrad Bedal, na Alemanha. O encontro e o curso foram idealizados e promovidos pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Blumenau – IPPUB – neste tempo Vilmar Vidor foi seu presidente. Nomes de alguns que participaram do curso ministrado por Gerner: mestre carpinteiro alemão Bernd Kuschinik; Michele; Patrícia Schwanke; Silvana Moretti;  Inês; Manfred Gerner; Sávio Abi-Zaid; Luciana Grebe Rosa; Iara Gomes; Juliana Stefanes; Egon Tiedt (Pomerode);  Angelina Wittmann; Arthur Bonna; Guido Paulo Kaestner Neto; Pedro Ernesto Bühler;  Egon Belz; Vera Krummenauer;  Joice, Heinz Beyer e Ione Pereiraentre mais alguns. Fotografia de  Heinz Beyer.

Vilmar Vidor da Silva – arquiteto e urbanista; pós-doutor; professor; idealizador e primeiro presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Blumenau (IPPUB); idealizador, fundador e professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Furb; escritor; pesquisador; (…), escolheu a cidade de Blumenau para emprestar sua formação e contribuir com projetos desenvolvidos na cidade, ao longo do período inserido entre as décadas de 1970 e 2010, de maneira prática, dentro dos cargos que ocupou paralelamente às suas pesquisas.

Foi incompreendido por parte de seus contemporâneos, tal como aconteceu com muitos nomes da História. Buscou praticar, com lisura, o que determina a formação de um arquiteto urbanista e é aplicado em cidade, de fato desenvolvidas e onde se aplicam diretrizes de sustentabilidade (sob vários aspectos).

Questões muitas vezes esquecidas por colegas da arquitetura e do urbanismo, sob a justificativa de que é “preciso viver”, preferindo se prostituir, fugindo do desgaste de contrariar o mercado imobiliário, em detrimento do planejamento da cidade, a curto, médio e a longo prazos. Cidade vista como é – um organismo vivo, em movimento, todo tempo a partir das práticas do homem no seu espaço, que pode ser adequado a elas observando critérios.

Bairro Victor Konder – Blumenau SC – junto às margens do ribeirão da Velha – 2015.

Vilmar Vidor foi um arquiteto urbanista na essência e no modo que atuou durante sua vida profissional como professor, pesquisador e urbanista. Fez-nos compreender que podemos fazer os projetos arquitetônicos e propor arquitetura em todas as escalas e gabaritos, porém, antes, é preciso fazer o projeto da cidade, respondendo: “onde, como e de que maneira?”. Estas novas edificações serão construídas e integradas à malha urbana existente, alinhadas às antigas, readequadas ao novo uso da sociedade do presente.

Durante o curso ministrado pelo especialista alemão Manfred Gerner, sobre enxaimel, que aconteceu em 1996 entre os dias 12 e 16 de agosto na residência de Ari Franz – Vila Itoupava – Blumenau SC. O professor Vilmar Vidor, presidente do IPPUB e proponente do projeto Memorvale – FURB, foi o responsável pela vinda do Gerner ao Brasil, que retornou após 23 anos em 2019. O pesquisador alemão ficou surpreso de como está o processo de preservação e pesquisa desta técnica construtiva na cidade de Blumenau, que na década de 1990 era citada como maior reduto de casas enxaimel fora da Alemanha e agora, não mais. Registramos nesta fotografia: o professor Vilmar Vidor na escada, a arquiteta Patrícia Schwanke e o fotógrafo e jornalista do Jornal de Santa Catarina JSC – quando cobriam realmente o evento.
Félix Christiano Theiss, quando no período de seu mandato como prefeito de Blumenau (31/01/1973 a 01/02/1977). Fonte: Ficheiro Wikipédia.

Recém-formado, chegou à cidade de Blumenau na década de 1970 e recebeu a missão de implantar o novo Plano Diretor da cidade, encomendado pelo ex-prefeito Evelásio Vieira e implantado no governo do ex-prefeito Félix Theiss. Este, generosamente, prestou uma homenagem ao arquiteto no momento em que poucos amigos dele se despediam, em 25 de novembro de 2015, após seu falecimento no Hospital Santa Catarina. Somente neste momento tivemos conhecimento de parte de seus feitos para a cidade de Blumenau, pouco divulgados por ele mesmo.
Félix Theiss dirigiu suas últimas palavras ao seu amigo e colaborador de equipe no Planejamento Urbano de Blumenau – década de 1970.

“Prof. Vilmar Vidor,
Os amigos se despedem:
Você foi precioso na Secretaria de Planejamento na Prefeitura de Blumenau.
Defendeu o Plano Diretor de 1975 de “unhas e dentes”, ou seja, endureceu habilidosamente com munícipes que não queriam respeitá-lo, porque ainda não era Lei. A Câmara de Vereadores boicotou sua aprovação inicial.
Só foi aprovado na Câmara no mandato posterior ao nosso.
Você defendeu o 1° Projeto de Esgoto Sanitário de Blumenau, feito pelo “pai do Sanitarismo brasileiro” Saturnino de Brito.
Você foi, não só, um exemplo de “Servidor Público”. Foi um Mestre que ajudou a fundar o Curso de Arquitetura e Urbanismo na FURB, mercê de sua rica experiência em Arquitetura e Urbanismo na França. Nessa Homenagem póstuma, cabe agradecer-lhe por tudo que fez de maravilhoso por Blumenau. Que Deus tenha um lugar muito especial para meu querido amigo.
Blumenau, 25 de novembro de 2015. Félix Theiss.

“O Arquiteto é o Homem que sabe como bem abrigar seu próximo. “
Vilmar Vidor

Vamos conhecer a história deste arquiteto blumenauense – nascido em Porto Alegre.

V i l m a r   V i d o r    d a   S i l v a

Neste artigo o chamaremos de maneira simples, como era conhecido – Vilmar Vidor.

Porto Alegre – RS – 1948.

Vilmar Vidor nasceu na cidade de Porto Alegre no dia 5 de maio de 1948. Foi filho de Delmar Ramos da Silva e Maria Irani Vidor da Silva. O casal teve dois filhos. Vilmar teve uma irmã, que o antecedeu na partida, como também seu pai, que faleceu no dia 13 de novembro de 1957, quando Vilmar Vidor tinha 9 anos de idade.

De acordo com sua mãe, que ainda reside em Porto Alegre, no mesmo apartamento que Vilmar Vidor adquiriu com 19 anos de idade, ele sempre foi dotado de um grande senso de responsabilidade.

Vilmar Vidor começou a trabalhar com 13 anos no Conselho de Contabilidade de Porto Alegre, tendo conquistado sua independência econômica muito cedo. Só pediu o desligamento do emprego quando foi cursar a faculdade – curso de Arquitetura e Urbanismo, 7 anos depois, em 1968.

Quando exercia a profissão de arquiteto urbanista, sua família, com quem sempre manteve estreito contato, era formada por duas sobrinhas (filhas de sua irmã) e sua mãe, por muitos anos.

Em uma de suas últimas entrevistas cedidas ao jornalista Altair Carlos Pimpão, este perguntou se ele fora bom aluno.

“Como é que vou me analisar?
Eu acho que fui um bom aluno, porque eu rodei uma única vez. Eu tinha que fazer o exame de Admissão. Eu estudei muito para fazer o exame de admissão e passei no Colégio Marista Champagnat de Porto Alegre. Era um Colégio muito concorrido.” Vilmar Vidor

Sua vó, que era professora, residia próximo ao Colégio. Vilmar Vidor foi à casa da avó e permaneceu lá por um mês, estudando para fazer o exame. Passou com uma boa média. O Colégio é particular. Sua família não tinha condições de bancar a mensalidade e o transferiu para o Colégio Estadual Júlio de Castilhos – Julinho – de Porto Alegre.

O Colégio Estadual Júlio de Castilhos foi fundado em 1900. Originalmente, estava em outro prédio e em outro endereço. Em 1951, o prédio antigo (foto) foi destruído por um incêndio (até naquele tempo). O novo prédio da escola, construído em outro endereço, foi inaugurado em 1958 – ano anterior ao ingresso do aluno Vilmar Vidor em suas dependências – A arquitetura do antigo prédio deveria ser admirada por seu aluno, que não apreciava muito estudar matemática.
Suas melhores notas no colégio estavam nas disciplinas ligadas a Desenho e História.

No primeiro ano do ginásio no novo colégio, Vilmar Vidor reprovou em matemática, o que o deixou muito deprimido, tendo sofrido muito. Não era cobrado pela família, mas seu senso de responsabilidade não o perdoava. Contou que sua família não o pressionava e foi solidária diante de seu momento, pois acompanhava seu esforço para obter boas notas.
Durante seu ano de repetência, todo final de mês recebia um livro como prêmio por ter obtido a melhor nota da classe. Livros que afirmou, ter guardado sempre. Onde estão esses livros?

Teve um professor de matemática, francês, e nutria admiração pelo método pedagógico por ele adotado. Não apreciava a disciplina, tanto que o fez reprovar. Achava o mecanismo da matemática complexo, se comparado ao seu lado de percepção artística. Foi a única disciplina que o fez “parar” devido a uma reprovação. Vilmar Vidor contou que durante sua faculdade cursou a disciplina de cálculo, e também não o fez com facilidade. Argumentava que é importante para o profissional que faz cálculo de estrutura. Dizia que o arquiteto não faz cálculo de estrutura, mas que a pedagogia aconselha que se faça a disciplina dentro do curso de Arquitetura, para que esse profissional desenvolva o raciocínio e a percepção.

Vilmar Vidor – quando frequentava o científico – 18 anos.

Quando frequentou o ginasial, tinha em vista três opções para sua formação e profissão. Na ordem de importância, as profissões eram: jornalista, professor e arquiteto.

Arquiteto foi sua terceira opção, porque foi desaconselhado, na época, por terceiros. Fato que ocorre até os dias atuais: “Arquitetos no Brasil têm dificuldades para aplicar suas ideias e projetos.”.

Vilmar Vidor ouvia que geralmente o Arquiteto tem dificuldade em formar uma clientela e poder trabalhar. Foi prático durante esta reflexão, porque assistia à labuta diária da família para cumprir os compromissos.
Essa ideia o acompanhou somente até o fim do curso do científico, quando percebeu que desejava seguir a profissão de Arquiteto. Nesse tempo já delineava a ideia do Projeto na França.

Como surgiu a ideia de prosseguir os estudos na França?

Todas as suas tias eram professoras e tinham em sua biblioteca – espaço que apreciava frequentar – muitos livros relacionados à França e sua História. Suas tias usavam os livros para fazer a programação e preparar aulas. Foi nesse tempo que nasceu seu interesse pela França e também pela Inglaterra. Desejou conhecer os dois países.

Ingressou no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS no início do ano de 1968.

Coincidentemente, seu curso tinha uma biblioteca com base em autores franceses, italianos e americanos. Preferia os autores franceses e achava seus conteúdos melhores. Pesquisava com prazer nesses livros e foi, a partir do interesse crescente, pesquisando aquilo que não tinha acesso na biblioteca, como a parte histórica de outros períodos, e aumentava sua admiração pela França.

Em casa – Porto Alegre – acadêmico de Arquitetura e Urbanismo.

Quando terminou o curso de Arquitetura e Urbanismo, tinha também desenvolvido o seu projeto de estudo para a França (Especialização), não propriamente de Arquitetura, mas de Planejamento Urbano, área em que pretendia dar prosseguimento aos estudos.
Completou o curso de Arquitetura e Urbanismo em 5 anos, formando-se no final do ano de 1973.

Na época em que Vilmar Vidor se formou, não existia a estrutura de intercâmbio de pesquisas que há atualmente. Levou seu projeto até o consulado da França, em Porto Alegre, e o apresentou aos representantes franceses. Passou-se um ano, não foi chamado e não obteve respostas à sua busca.

No ano seguinte, quando já residia em Blumenau, o antigo Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano – CNDU – que existia desde o início da década de 1960, com interesse em especializar arquitetos na área de Planejamento Urbano, se manifestou. Existia um convênio entre CNDU e o governo francês – foi quando Vilmar Vidor foi contemplado com uma pequena bolsa de estudos.

Como foi que Vilmar Vidor chegou à cidade de Blumenau?

Vilmar Vidor – 1974.

Quando terminou o curso de Arquitetura e Urbanismo em Porto Alegre, em dezembro de 1973, começou a procurar um escritório de arquitetura para trabalhar na cidade, para atuar como arquiteto. Procurou, mas sem êxito.

O pai de uma colega de faculdade leu em um jornal de Porto Alegre – Correio do Povo – que havia vagas para arquitetos na cidade de Blumenau. Vilmar Vidor e sua colega telefonaram para a cidade, e na semana seguinte viajaram para Santa Catarina. Isto aconteceu em janeiro de 1974 (um mês após sua formatura), quando, então, conversaram com o Assessor de Planejamento da Prefeitura Municipal de Blumenau.

Blumenau em 1974 – fotografia de Vilmar Vidor.

No final desse mesmo mês – janeiro de 1974, recém-formados, ele e sua colega mudaram-se para Blumenau e começaram a trabalhar na Prefeitura Municipal no dia 1° de fevereiro de 1974.

Foi tudo muito rápido e decisivo.

Assim iniciava sua história na cidade de Blumenau, até o último dia de sua vida, em novembro de 2015.

Centro de Blumenau – Morro do Aipim – Restaurante Frohsinn – ano de 1975.

Quando chegou à cidade de Blumenau, Vilmar Vidor não conhecia ninguém e, inicialmente, foi residir em uma pensão localizada na frente do quartel, no bairro Garcia.

Vilmar Vidor contou que saíam de casa às 7h da manhã e não conseguiam embarcar nem no primeiro e nem no segundo ônibus, por causa da lotação. Permaneceram nesse local, ele e uma colega arquiteta, entre dois e três meses, até conseguirem alugar uma casa, também no bairro Garcia, próximo à Souza Cruz. Permaneceram residindo nessa casa por dois anos, até o momento em que saiu do País, para cursar Doutorado na França.

Registro Profissional em Santa Catarina – carteira do CREA SC – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.
Cópia – Documento de Identidade de 1975 – Também usado quando foi para França. Com carimbo da Ville Grenoble.
Ex-prefeito Evelásio Vieira.

Entre todos os projetos, alimentou o desejo de concluir seus estudos de pesquisa na França. Construiu isso desde a adolescência e perseguiu sua concretização durante alguns anos.
Tudo isso aconteceu porque o Plano Diretor de Blumenau (contratado pelo ex-prefeito Evelásio Vieira – 1972/1973 – elaborado por uma equipe de profissionais do Rio de Janeiro) havia ficado pronto em 1973, e a Prefeitura Municipal de Blumenau tinha conhecimento de que precisava de arquitetos urbanistas para acompanhar a implantação do novo Plano Diretor. O prefeito nesta época, Félix Theiss, demonstrou ter consciência sobre a importância da presença do profissional de Urbanismo nesse momento de sua administração – foi pioneiro na História de Blumenau. Pode-se afirmar que foi o primeiro prefeito de Blumenau a contratar profissional com este perfil e formação – entre os contratados, Vilmar Vidor.

Durante o ano de 1974, a nova equipe de arquitetos discutiu o novo Plano Diretor com a população, ao mesmo tempo em que coordenava sua aplicação na cidade. Momentos conflituosos entre a necessidade de organizar a partir do planejamento urbano e interesses de grupos pertencentes a todas as classes sociais da cidade.

Código Tributário Municipal e plano Diretor – Governo Evelásio Vieira.

Essa iniciativa aconteceu porque durante o governo do ex-prefeito Evelásio Vieira, surgiu uma série de problemas relacionados aos loteamentos clandestinos – já naquela época. Esta situação levou-o a contratar o novo Plano Diretor. Em 1974, a Prefeitura ingressou com toda a legislação do Plano Diretor, apresentando diretrizes sobre a ocupação do solo e outras tantas determinações quanto ao espaço da cidade. Esta foi a primeira atuação profissional de Vilmar Vidor dentro do poder público da cidade.
Observar na fotografia o nome “Vilmar” escrito à mão, sob Assessoria de Planejamento – mostra local e cargo dentro da equipe de trabalho da Prefeitura de Blumenau de Félix Theiss – Foi o arquiteto contratado pelo prefeito para implantar o primeiro Plano Diretor da cidade de Blumenau.

1973 / 2023, 50 anos passados desta importante iniciativa relacionada ao planejamento urbano da cidade de Blumenau.
Equipe enxuta e técnica.
Arquiteto Vilmar Vidor trabalhando na Prefeitura de Blumenau – Início do ano de 1974.

Também estava entre as suas atribuições, na época da implantação do Plano Diretor e dentro deste, a implantação do Projeto de Esgoto da cidade de Blumenau e a construção da ponte na Rua República Argentina – Anel Viário Norte – construída durante o governo do ex-prefeito Félix Theiss. O Projeto da Estação de Esgoto, localizada na Rua Antônio Treis, foi adiado para o término da obra da ponte. Enfrentou muitos problemas durante sua implantação – anos 1974 e 1975.
O Plano Diretor em implantação na administração de Félix Theiss tinha dois “Anéis” importantes para a cidade, conhecidos como “Anel Norte” e “Anel Sul”. Nessa época, o prefeito Félix Theiss, lançou a ideia de iniciar a nova Rodoviária de Blumenau e o fez. A nova equipe de arquitetos começou a trabalhar em cima do projeto da nova rodoviária, concluída durante o governo do ex-prefeito Renato de Mello Vianna.
O “Anel Norte”, na época, era uma obra difícil, mas não impossível. Por isso, foi construído um de seus principais elementos – a ponte. O restante do projeto poderia ser concluído posteriormente, até mesmo em outras administrações. Até hoje o projeto está inacabado e sua continuidade interrompida, no que diz respeito ao planejamento. Na época, foram executadas partes importantes, abrindo trechos da rua 2 de Setembro para buscar concluir o “Anel Viário Norte”. Partes feitas com muita dificuldade, e foi concluída a ponte, atualmente conhecida como ponte do “Anel Viário”, e só!

Destaque para a Ponte do Anel Viário Norte – com o projeto incompleto não é aproveitada como deveria no sistema viário da cidade. A Malha está incompleta – Este trabalho foi coordenado pelo arquiteto e urbanista Vilmar Vidor.
Renato de Mello Vianna – Mandatos: 1º /02/1977 a 14/01/1982 e 1º/01/1993 a 31/12/1996.

O ex-prefeito Renato de Mello Vianna tentou continuar a obra. Fez algumas desapropriações e, de acordo com Vilmar Vidor, caberia aos outros prefeitos dar continuidade à mesma – isto, se conhecessem as diretrizes do projeto. Era necessário construir a ponte junto à Rodoviária Nova – sobre a rua 2 de Setembro, concluída ainda no governo do ex-prefeito Renato de Mello Vianna.
Segundo Vilmar Vidor – era necessário que a execução do projeto tivesse continuidade – mas até então não aconteceu, e as estruturas urbanas estão ainda ali sem o seu total aproveitamento – porque não houve continuidade na execução deste projeto.
Nesse tempo em que Vilmar Vidor trabalhava na Prefeitura Municipal de Blumenau, mais precisamente, no recorte de tempo entre os anos 1975 e 1979, também foi o professor responsável pelas disciplinas de Desenho Técnico e Arquitetura e Urbanismo no recém-criado curso de Engenharia Civil na FURB – Universidade Regional de Blumenau. Foi professor dos engenheiros formados na primeira turma de formandos do curso de Engenharia Civil da FURB.

Campus da FURB – 1979.

Vilmar Vidor também foi o Chefe de Departamento de Técnica das Construções do Curso de Engenharia Civil – FURB – Universidade Regional de Blumenau nos anos de 1976 e 1977.

No ano de 1978, fez uma especialização em Administração do Planejamento Urbano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde fizera sua graduação. Terminou a especialização no ano seguinte, 1979.

Brincadeira feita pelos cursando no encerramento da especialização.
Félix Theiss.

Paralelamente a este trabalho na Prefeitura Municipal de Blumenau, com o qual encontrava-se muito envolvido, e outros cursos, seu projeto de fazer uma Especialização na França continuava tramitando. Conforme mencionado, foi contemplado com uma bolsa de estudos a partir de um convênio entre o governo francês e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano – CNDU. Pelo envolvimento e montante dos trabalhos sob sua responsabilidade na Prefeitura de Blumenau (assessor de Planejamento Urbano), aliado aos pedidos do ex-prefeito Félix Theiss e do prefeito Renato de Mello Vianna, de permanecer um pouco mais na cidade, foi postergando a sua ida para a França.

Reencaminhou seus projetos no ano de 1978 e, em dezembro, recebeu o aviso de que a bolsa havia sido deferida, não para especialização, mas para Doutorado. No ano de 1979, mudou-se para a França para dar sequência aos seus estudos – Doutorado na Université Paris – Sorbonne.
Vilmar Vidor seguiu o que sempre buscou – prosseguir seus estudos em Planejamento Urbano na França. Não falava o idioma francês fluentemente, a bolsa de estudos que receberia era pequena, não conhecia ninguém naquele país, mas isso não o impediu de partir.

Arquiteto Vilmar Vidor.

Antes do arquiteto partir para a França, aconteceu algo interessante. Um adito cultural francês, durante uma reunião na FURB com Vilmar Vidor e o Reitor da Universidade – Professor José Taffner, alertou-o ao saber do valor de sua bolsa. Disse-lhe que “teria uma vida bastante modesta”, quando estivesse estudando naquele país.
Para registro – O valor da bolsa que recebeu foi de 1200 Francos – nesse tempo, o valor mínimo do aluguel no entorno da Universidade de Sorbonne era de 500 Francos. Diante do aviso do edito francês, Vilmar Vidor procurou a FURB, a qual tinha dois cursos, cujos quadros docentes tinham o nome do Professor Vilmar Vidor. A FURB investiu e pagou o valor de 4 horas-aula ao arquiteto. Vilmar Vidor também procurou a Prefeitura Municipal de Blumenau, que pagou, por um tempo, um salário-mínimo. Na época, o prefeito de Blumenau era Renato de Mello Vianna.

Localização do pequeníssimo apartamento onde residia em Paris. Apartamento de um ambiente somente, onde sempre ficou quando pesquisava e estudava na Universidade de Sorbone.
Localização da porta de seu pequeno apartamento Fotografias de dois períodos – de 1979 e 2008.

Logo que chegou à França, após se acomodar, matriculou-se em um curso de língua francesa do Centre d’Études Français, Université de la Sorbonne Nouvelle. Foi certificado em 12 de junho de 1981. Estudou francês por dois anos, paralelamente ao seu curso de Doutorado na Sorbone.

Quando você conhece relativamente bem a língua francesa, você começa a admirar os escritores franceses. Porque a escrita não é uma coisa muito fácil, tem determinados arranjos, determinadas composições e combinações. Se pega um Vitor Hugo, você se deslumbra com a escrita. O francês é admirável, eles têm uma educação, não somente da língua francesa, mas uma atenção com a língua. O menino e a menina que frequentam a escola, aprendem a escrever o francês perfeitamente. Os pequenos franceses que saem da escola primária, sabem escrever um relatório. Vilmar Vidor.

Parte de sua biblioteca – entre os muitos livros – na língua portuguesa igualmente.

Fazia questão em dar um retorno positivo para fazer jus à bolsa e aos auxílios que estava recebendo do Brasil.

Université-Paris Sorbonne.

Durante o curso na Université-Paris Sorbonne, começou a descobrir alguns projetos interessantes franceses, como por exemplo a construção de Cidades Novas – Villes Nouvelles – uma prática feita também em outros países da Europa, logo após o término da II Guerra Mundial, quando começaram a reconstruir os espaços destruídos. Motivado pela curiosidade, desejou conhecer como acontecia a criação dessas Villes Nouvelles e como o Estado decidia onde e como fazer. Os questionamentos o impulsionavam a pesquisar. Na França, como também ocorreu nos outros países da Europa, havia o problema da superpopulação nas maiores cidades. Também era uma realidade na cidade de Paris. Vilmar Vidor estudou, com detalhes, o surgimento das Villes Nouvelles.
No ano de 2014 ministrou uma palestra para nossos alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo – disciplina de Planejamento Urbano sobre as Villes Nouvelles – com base em suas pesquisas. Os futuros arquitetos assistiram toda a palestra encantados, compenetrados e em um silêncio profundo.

Michel Rochfort.

Vilmar Vidor concluiu o Doutorado na Sorbonne em dezembro de 1983. Fez sua defesa em março de 1984 e tornou-se Doutor em Planejamento Urbano na Université-Paris Sorbonne, ou ainda, Doutorado: Analyse Régionale et Aménagement du Territoire, Université Paris I, Sorbonne. Le processus la région nord-est de I’Etat de Santa Catarina. Seu orientador foi o geógrafo francês Michel Rochefort – Professor na Sorbonne – presidente do Conselho de Administração do Instituto Francês de Urbanismo.
Michel Rochefort nasceu em janeiro de 1927, em Joux-la-Ville e faleceu, coincidentemente, no mesmo ano em que Vilmar Vidor partiu – janeiro de 2015.

Rochefort marcou a Geografia, especialmente a Geografia Urbana, na qual destacou e estudou as desigualdades e problemas de desenvolvimento sócio espaciais. Fez pesquisas em países subdesenvolvidos, com preferência e foco na realidade brasileira, em particular. Acompanhou e orientou a pesquisa e estudos de Vilmar Vidor na Sorbonne.

Michel Rochfort – Brasil – 1971.

A tese defendida por Vilmar Vidor teve como tema o Vale do Itajaí – antiga Colônia Blumenau, e tinha relação com a implantação do Plano Diretor na cidade. Desenvolveu não somente o histórico econômico e urbano da área de Blumenau, mas também comparativos com outras regiões do Estado de Santa Catarina, como Joinville, Brusque, e toda a área nordeste do Estado. Foi um trabalho de reflexão sobre as condições de desenvolvimento do parque industrial e, consequentemente, do desenvolvimento da malha urbana e da malha rural para que este processo industrial pudesse evoluir na região.

Tese de Vilmar Vidor – versão original – 1984.

Após a defesa de sua tese, em abril de 1984 Vilmar Vidor retornou à cidade de Blumenau.
Uma das primeiras coisas que fez quando retornou à cidade, foi a de traduzir parte do texto da tese para que fosse disponibilizado à comunidade acadêmica e também à comunidade social. Parte de seu conteúdo foi publicada pela Editora da FURB, no ano de 1995 – sob o título de Indústria e Urbanização no Nordeste de Santa Catarina.
Somente parte da tese foi traduzida e publicada – há uma cópia da tese original e completa na Biblioteca da FURB – disponível para os pesquisadores e comunidade.
Seu livro é o mais completo sobre a história econômica da formação da Colônia Blumenau e adjacências que lemos, dentro de nossas referências bibliográficas de pesquisas. Seu conteúdo é muito denso e abrangente no âmbito das diversas áreas de estudos sobre o tema apresentado. Seguindo o perfil do autor – modéstia – foi pouco divulgado e poucos pesquisadores têm noção do conteúdo, que faz um apanhado da formação do nordeste catarinense dentro da escala maior, do Estado de Santa Catarina, com foco na Colônia Blumenau. Muito bom.

O livro – de uso pessoal – está “maltratado” – por muito manuseio.
Arlindo Bernart – 1982. Fonte: FURB

Ainda em 1984, Vilmar Vidor percebeu que a FURB crescera. Continuou sendo professor do curso de Engenharia Civil, mas percebeu que havia espaço, também, para um curso de Arquitetura e Urbanismo. Sugeriu à Reitoria da Universidade a criação do novo curso. De acordo com o mais novo Doutor em Planejamento Urbano, existia um potencial muito grande, não só em Blumenau, mas na região, para criar o curso. Muitas pessoas desejavam fazê-lo, e iam cursá-lo na cidade de Florianópolis – na UFSC – curso recém-criado. Ou, ainda, iam para Curitiba ou Porto Alegre.
O Reitor da FURB nessa época era Arlindo Bernart, que concordou com sua argumentação e sugeriu que ele desenvolvesse um Projeto para o curso de Arquitetura e Urbanismo e assim o professor Vilmar Vidor o fez. Temos a documentação que atesta seu envolvimento com a fundação do curso, encontrada em seu escritório, após sua partida. O professor Vilmar Vidor foi o idealizador e fundador do curo de Arquitetura e Urbanismo da FURB.  Existem comprovações documentais.
Ainda no início desse ano de 1984, Vilmar Vidor tornou-se Coordenador do Projeto “Análise Socioeconômica da população sedimentada na área urbana de Blumenau” – com apoio do CNPq. Também no início desse mesmo ano tornou-se Coordenador do Projeto “Cadastramento do Patrimônio Arquitetônico de Blumenau” – apoio SPHAN/Pró-memória, conhecido Projeto Memorvale. Este, coordenado por Vidor que também foi seu proponente, é um trabalho de valor imensurável para a cidade de Blumenau de todos os períodos históricos, e está sob a guarda da FURB. Também há cópia com o extinto IPPUB (digitalizada) – Prefeitura Municipal de Blumenau. Ele é o seu autor e proponente. Sugerimos a publicação à FURB, em sua memória, antes que se perca. Ficará como uma real contribuição para as futuras gerações de pesquisadores; e o crédito, com o seu legítimo autor.

Um pouco sobre o Projeto Memorvale

O Projeto Patrimônio Arquitetônico de Blumenau – Memorvale foi a efetivação do cadastramento das principais tipologias pertencentes ao patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau e região, nas décadas de 1980 e 1990 e que teve como epílogo o tombamento, pela Fundação Catarinense de Cultura, de vários imóveis no centro de Blumenau e outros restaurados. Professor Vilmar Vidor foi o idealizador e proponente do projeto, tendo em sua equipe, dentre outras pessoas, a professora Amábile M. T. Dorigatti, que também coordenou o projeto em determinado período.

Para a efetivação prática do projeto, o professor Vilmar Vidor contou com o apoio da FURB, através da participação de estagiários acadêmicos da instituição, que elaboraram o cadastro de imóveis antigos, de todos os tipos, linguagem e técnicas construtivas, entre os quais, aqueles construídos com a técnica construtiva enxaimel. O cadastro individual de cada tipologia continha um pequeno relatório técnico, descrição, planta baixa, elevações e fotografias dos imóveis selecionados.

Fichas do Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale

Tivemos acesso a mais de 1100 fichas pertencentes ao Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – Memorvale, semelhantes à imagem; estão listadas algumas das centenas de tipologias construídas com a técnica construtiva enxaimel, autoportante, e outras técnicas, dentro de diferentes estilos e recortes de tempo, que existem e existiam na cidade de Blumenau e região. O modelo da ficha foi criado pelo professor Vilmar Vidor e sua equipe e usado para elaborar o pioneiro cadastro do Patrimônio Histórico Arquitetônico, conhecido como Memorvale. De acordo com o professor Vidor, pioneiro nesta pesquisa no Vale do Itajaí, em entrevista cedida ao jornalista Altair Pimpão, em 2 de março de 2014, 2/3 das edificações cadastradas de Blumenau foram demolidas. Por certo, no tempo presente, muito mais. Estamos cadastrando algumas das tipologias registradas dentro de uma “Série”: Arquitetura/Projeto Memorvale.
O assunto patrimônio e este trabalho eram tão novos dentro da academia, na cidade de Blumenau e região, que em algumas fichas as casas foram definidas como “enchaimel”.
Abaixo,  exemplos de um total de 1100 fichas como estas, parte do Cadastro Memorvale.
Parte do Museu da Família Colonial – Tipologia casa permanente. Fonte: Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – MEMORVALE.
Casa Alfredo Michelmann – casa enxaimel alemã Rähmbau, renascentista e barroca, com a presença dos Balkenkopf e Knagge. Fonte: Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – MEMORVALE.
Casa com a tipologia da casa permanente e varanda “engastada” no corpo principal. Fonte: Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – MEMORVALE.
Casa com a tipologia casa permanente rural com diferenciação na mansarda. Fonte: Cadastro do Patrimônio Arquitetônico – MEMORVALE.
Teatro da colonização, tradições, usos e costumes do blumenauense – Alunos das 3° Séries da Escola João Wiedmann e Escola Machado de Assis com a presença da bisneta do fundador de Blumenau – Jutta Blumenau-Nielse e representantes do Instituto Bertha Blumenau – Fotografia da professora Aurene Francisco – idealizadora do Projeto , apoiado pelo instituto.

Segundo o professor Vilmar Vidor, o fichário dos imóveis foi repassado para a Fundação Municipal, a qual posteriormente repassou para o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Blumenau – IPPUB. A parceria entre a FURB e IPPUB aconteceu, porque Vilmar Vidor – presidente do IPPUB, como professor da FURB, promovia a “ponte” e o intercâmbio.
Inspirada em todas estas ações referenciando o Patrimônio Histórico Arquitetônico de Blumenau, a professora do curso de Serviço Social da FURB – Amábile Dorigatti teve a iniciativa de criar a Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos, que depois virou Instituto Bertha Blumenau e atualmente está incorporada ao IHB – Instituto de História de Blumenau.

“A associação dos proprietários de imóveis antigos foi ideia da professora Amábile Dorigatti do curso de Serviço Social e contou durante três anos com o trabalho dedicado das estagiarias Jacqueline Samagaia, Ivanir Mais e Denise Suchard. Esta associação que depois virou Instituto Bertha Blumenau, estava inserida no projeto de cadastro como consequência direta do trabalho técnico de levantamento dos imóveis. Digo isto porque, se não fosse a mesma pessoa, talvez a integração não tivesse existido. É um detalhe no percurso histórico, mas, eu considero importante, considerando o desenro

lar posterior, muito midiático e político que fez o projeto sucumbir. Tem dois nomes citados na entrevista de Nemetz, Vilma Tomio e Neide Floriano que eu nunca ouvi falar. Talvez por lapso de memória.” – Vilmar Vidor – 02/03/2014.

“Lembro bem desse trabalho da Profa. Amábile, da FURB. Das camisetas com a casa enxaimel (eu tinha duas camisetas e as usei muito nessa época). Também tinha a revista em quadrinhos sobre a história do enxaimel. O Centro de Memória Universitária da FURB deve ter esse material. Foi um projeto muito importante.” Heide Zimmermann – 03/03/2014

Atualmente, esse trabalho está sob a guarda da FURB e também deveria estar na Prefeitura Municipal de Blumenau. Parte significativa do acervo cadastrado (2/3) foi demolida. Como
Presidente do IPPUB, paralelamente a esse trabalho, o professor Vilmar Vidor efetuou um trabalho junto aos proprietários das edificações históricas cadastradas. Mantinha um diálogo permanente com os proprietários de imóveis antigos, através da Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos, a qual tinha uma cadeira no Conselho do Patrimônio Histórico de Blumenau. Nas assembleias desta Associação, a municipalidade e os proprietários debatiam sobre a manutenção do patrimônio e sobre possíveis políticas preservacionistas. Existia um Estatuto e as reuniões eram periódicas.

Representantes da Associação dos Proprietários de Imóveis Antigos, também ocupavam uma cadeira no Conselho de Patrimônio histórico, que deliberava e debatiam sobre restauro e estado de conservações de imóveis cadastrados.

Nesse mesmo tempo, 1984/1985, participou e coordenou a reavaliação do Plano Diretor Físico Territorial do município de Timbó-SC.

Vilmar Vidor – 1987.

Em 1986, Vilmar Vidor também foi assessor do projeto “Trabalho Social sobre Patrimônio Arquitetônico de Blumenau”, sob coordenação da Profa. Amábile Dorigatti, iniciado em 1986 – também com apoio do CNPq.
Nos anos de 1991 e 1992, acompanhou de perto a implantação do curso que ajudou a construir – Arquitetura e Urbanismo –  sem ter entrado em sala de aula – lecionava as disciplinas ligadas à área de Planejamento Urbano. Nesse tempo, desenvolveu pesquisas paralelamente, coordenando grupos de alunos. Nós, pessoalmente, fizemos parte de um desses grupos orientados pelo professor. Desenvolvemos pesquisa sobre materiais alternativos para habitação popular, com verba do CNPQ. O objetivo de Vilmar Vidor foi o de construir um acervo de pesquisas dentro da Universidade.

Antes da implantação do curso de Arquitetura e Urbanismo na FURB, entre os anos de 1989 e 1990, foi o Coordenador do Núcleo de Pesquisas em Planejamento Urbano vinculado ao IPS – Instituto de Pesquisas Sociais da FURB – Universidade Regional de Blumenau.
Nesse ano de 1990, solicitou à Reitoria licença até 1991 para fazer o pós-doutorado na Université Paris I- Pantheon Sorbonne – França, onde tinha defendido a tese de Doutorado. A oportunidade surgiu. O tema de sua Pesquisa foi “Planejamento Urbano e Meio ambiente, Arquitetura, Urbanismo e Meio Ambiente”.

Resposta do Relator à solicitação  de afastamento da Universidade – FURB – para cursar Pós-Doutorado na França.
Resposta da Comissão  à solicitação de afastamento da Universidade – FURB – para cursar Pós-Doutorado na França.

De maneira prática, estava “abrindo” caminho para o novo curso na FURB que tanto almejava.
Quando chegou a Blumenau, após o pós-doutorado na França, no dia 6 de abril de 1991, ministrou uma palestra relacionada ao tema de sua pesquisa do pós-doutorado no espaço da ACAPRENA – Associação Catarinense de Preservação da Natureza. Nesta palestra conhecemos o professor Vilmar Vidor. Lamentamos não ter feito registros fotográficos. O professor era sócio da entidade. Durante a palestra, foram travados calorosos debates sobre a situação das cidades no Brasil e a degradação ambiental decorrente das ocupações humanas e seus diferenciais sociais.

Vilmar Vidor foi um assíduo Sócio da Acaprena – Associação Catarinense de Preservação da Natureza.
Certificado do Curso ministrado pelo Professor Vilmar Vidor na Acaprena.

No ano de 1992, forneceu material para a edição da RBS TV – matéria. Há a presença de suas respostas a comentários, inclusive da França:

Nesse mesmo ano de 1992, nós o assistimos pelo telejornal local do meio-dia, como presidente da Comissão Especial de implantação do Curso de Arquitetura e Urbanismo na FURB, com a primeira turma tendo ingressado nesse mesmo ano.

Comissão composta desde o ano de 1990 – com a Presidência do Professor Vilmar Vidor.

Inscrevemo-nos no vestibular para fazer parte desta primeira turma de Arquitetura e Urbanismo.  Ingressamos no início do ano de 1992 no primeiro semestre do curso idealizado pelo professor Vilma Vidor.

Aula Magna da 1° Turma do curso de arquitetura e Urbanismo da FURB, o segundo do estado de Santa Catarina – sem a presença do professor Vilmar Vidor – seu idealizador. A palestrante foi Dra. Gilda Collet, professora da  FAU USP, com quem professor Vilmar mantinha intercâmbio para a montagem da grade curricular do novo curso.

O professor Vilmar Vidor ministrou 3 disciplinas para a primeira turma. Encontramos entre seus guardados, em 2015, a lista dos nomes que estavam na sua turma de Projeto Urbanístico, com o dizer manuscrito na parte superior do papel: “1ª Turma – 2° Semestre de 96” e uma fotografia dessa turma, feita após a apresentação de todos os trabalhos de Projeto Urbanístico – Projeto final de Urbanismo – no curso.

Primeira turma de Projeto Urbanístico (Final de Urbano) – 1ª turma de Arquitetura e Urbanismo da FURB – 1996 e os professores Vilmar Vidor e Cristiane Mansur. Havia um terceiro professor – Sérgio Alibert Meirelles, que faleceu no decorrer do semestre em um afogamento no mar – Homenageado na formatura desta turma como professor “Nome de Turma”.

Por ser a primeira turma de um curso como o de Arquitetura e Urbanismo, que envolve áreas diversificadas de pesquisas com foco predominante na área de humanas, estando dentro de um Centro Tecnológico, a primeira turma passou por algumas “tempestades”, e o professor Vilmar Vidor, também.

Formatura da primeira turma de Arquitetura e Urbanismo da FURB.

Por ironia, e talvez consequência, por não externar seus feitos e trabalho (trabalhava em silêncio e com disciplina), na época da formatura da primeira turma do curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB, o professor Vilmar Vidor não recebeu convite formal e oficial para o evento, como também outros professores. Não foi homenageado, porque os formandos não tinham conhecimento e nem nós tínhamos. Descobrimos estes fatos históricos durante esta pesquisa. O professor Vilmar Vidor foi o idealizador e fundador do curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB.
Ele guardou toda a documentação do projeto que executou – nós a encontramos entre seus guardados, em 2015,após a sua partida – com autorização de sua mãe. Após a formatura da primeira turma de formandos de arquitetos urbanistas, o professor Vilmar Vidor recebeu um convite separadamente, de um dos formandos, para guardar como lembrança, e guardou. Encontramos este convite entre seus guardados, depois que partiu.

O idealizador do curso de Arquitetura e Urbanismo silenciava-se diante das adversidades, mas acompanhava a sua implantação, atento.
Nesse tempo, durante o cursar da primeira turma de Arquitetura – ainda no ano de 1992, teve a oportunidade de dar prosseguimento a seus trabalhos junto à Prefeitura Municipal de Blumenau. Idealizou e teve o apoio do prefeito em exercício – Renato de Mello Vianna, para implantar o Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Blumenau – IPPUB.

No papel que mostra uma proposta inicial da autarquia, ficou evidente o interesse de Vilmar Vidor, no que tange a pesquisa. O primeiro nome sugerido seria somente Instituto de Planejamento de Blumenau IPB. Recebeu, pelas mãos de seu autor, a palavra “Pesquisas”. Sugerimos a leitura, para que as pessoas tenham uma noção do que é esta autarquia, composta por técnicos, e não políticos, para planejar a cidade.

Foi o primeiro presidente do IPPUB. Em 14 de junho de 1993, sob a Portaria N° 2.024, assumiu a presidência do recém-criado IPPUB – Instituto de Pesquisa e Planejamento de Blumenau e ocupou-a até 31 de dezembro de 1996, quando se encerrou o mandato do prefeito Renato de Mello Vianna.

Como presidente da autarquia criou muitas oportunidades para promover reais intercâmbios com outras administrações que também priorizavam, aplicavam e enalteciam o Planejamento Urbano a partir de políticas públicas com lastros, envolvendo as diversas áreas político-socioeconômicas.
Nas duas fotos abaixo, recebendo o arquiteto Jaime Lerner, no dia 11 de agosto de 1993, que palestrou para uma plateia formada por técnicos, acadêmicos e comunidade. O anfitrião foi o IPPUB. Na fotografia, também presentes, além do professor Vilmar Vidor, o prefeito de Blumenau, Renato de Mello Vianna e o coordenador do Curso de Arquitetura, Arquiteto e professor Stênio Calsado Vieira.

Arquiteto Jaime Lerner com a palavra.

Por desencontros e “tempestades”, o professor Vilmar Vidor não foi devidamente homenageado na formatura da primeira turma de formandos do curso que idealizou – Arquitetura e Urbanismo da FURB. Mas foi especialmente homenageado na segunda turma de formandos do curso. A colação de grau foi no dia 2 de agosto de 1997.

Entre os formandos estavam os arquitetos:

  • Christiane Mundim Lindner;
  • Fabiana Hinsching;
  • Ivo Peretto Filho;
  • Jonas Eduardo Franz;
  • Juliane Stefanes;
  • Larissa Darius Schwanke;
  • Patrícia Schwanke;
  • Raquel Marchi.
Convite encontrado entre seus pertences especiais – no seu escritório – após sua partida, em 2015.

Para registro: lecionou no curso de Arquitetura e Urbanismo da FURB, de 1992 a 1997. Ministrou as disciplinas: História da Cidade, Economia Urbana, Teoria História da Arte, Arquitetura e Urbanismo, Planejamento Territorial Urbano e Projeto Urbanístico.
Participou e coordenou a reavaliação do Plano Diretor Físico-Territorial do município de Gaspar-SC – 1997.
Em 1998, em decorrência do novo sistema de aposentadorias criado pelo governo federal, solicitou a aposentadoria, porque era munido de todas as condições. Recebeu a aposentadoria, e mesmo sem querer sair da FURB, não foi lhe permitido continuar trabalhando. Saiu da FURB em dezembro de 1998 e em fevereiro de 1999, estava lecionando na UNIVALI, sempre com desejo de retornar para a FURB. Nunca deixou de residir em Blumenau.
Em 2003, Vilmar Vidor foi Secretário de Planejamento Urbano de Bombinhas.
Entre os anos de 2005 e 2008, fez parte do quadro docente da Pós-Graduação Urbanismo, História e Arquitetura das Cidades – ligada ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Nossa Banca de Qualificação – Primeira turma de mestrado em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – professor Vilmar Vidor (Nosso orientador) com os professores convidados – participantes da Banca – professor Nelson Popini Vaz e professor Lino Peres – UFSC – Ano 2007.

Uma de suas cartas de apresentações

“Prezados Senhores,
Minha carreira docente foi sempre dedicada ao urbanismo. Sempre tive o maior interesse por esta área de estudos. A partir de 1975 quando comecei a lecionar no curso de Engenharia Civil da Furb já recebi como missão desenvolver a disciplina planejamento urbano.
Meu primeiro trabalho, logo após a formatura, em 1973, foi na área de planejamento urbano. Assumi o posto de Diretor de Estudos e Projetos na recém-criada Assessoria de Planejamento de Blumenau em 1974. Desenvolvi esta atividade em paralelo com a docência na Furb até 1979 quando parti para desenvolver doutorado na França.
Concluído doutorado em 1984 reassumi em tempo integral e dedicação exclusiva na Furb onde passei a chefiar o laboratório de pesquisas sobre planejamento urbano no antigo Instituto de Pesquisas Sociais. Neste laboratório desenvolvemos duas linhas de pesquisa: patrimônio histórico e análise da situação urbana em Blumenau. Nestes dois eixos trabalhamos treze anos, até 1997, quando me aposentei.
Os dois eixos de pesquisa tiveram desdobramentos, estendendo-se aos cursos de engenharia civil, história, serviço social e ciências sociais porque contávamos com professores engajados no processo e interessados no desenvolvimento e nas conclusões das pesquisas para utilizarem-nas como material de estudos junto aos alunos. Ainda não tínhamos curso de Arquitetura, este iniciou em 1993 e não teve laboratórios de pesquisa senão a partir de 1998.
Meu trabalho de doutorado foi traduzido e adaptado para publicação em 1995. Com o título “Indústria e urbanização no nordeste de Santa Catarina” trabalhamos as questões produção, salário e desenvolvimento urbano. Publicamos outros artigos, relacionados no currículo e realizamos um trabalho de pós-doutoramento em 1991, que constou da análise dos Conselhos de Arquitetura, Urbanismo e Ambiente na França.
Nos meses de setembro, outubro e novembro, próximos passado, estivemos na França para iniciar um segundo pós-doutorado sobre Cidade Novas. Anexamos a este dossiê parte das fichas de leitura para reflexão em relação a este trabalho de pesquisa.
Além das tarefas principais mencionadas acima desenvolvemos outras junto a comunidade urbana de Blumenau, de caráter mais prático, como assessoria às associações de bairro, trabalho de coleta de dados e interpretação estatística para a prefeitura e várias consultorias. Trabalhamos também no município de Timbó como consultor para revisão do Plano Diretor e na prefeitura de Bombinhas como Secretário de Planejamento Urbano, no ano de 2003.
A partir do mês de janeiro de 1998 assumimos as disciplinas de planejamento urbano do curso de Arquitetura e Urbanismo da Univali em Balneário Camboriú. Fui encarregado de elaborar os programas de todas as disciplinas do tronco, ou seja, Planejamento Urbano II, III, IV, V, VI e Planejamento Turístico Estratégico. Juntamente com colegas, eu fiz parte da comissão para criar o projeto de mestrado na área de urbanismo na Univali. Conclui meus trabalhos na Univali em 2004. Desde 2003 sou docente convidado do curso de mestrado “Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade” da Universidade Federal de Santa Catarina.
O edital publicado no site Vitruvius sobre as inscrições na PUC para vagas no curso de mestrado, indicam 8 horas para o curso de graduação e 32 horas para o curso de mestrado. Eu gostaria de confessar que não tenho absolutamente nenhum interesse em lecionar no curso de graduação. Eu sei que a Capes solicita um entrosamento dos cursos de graduação com os de pós-graduação, entretanto não é obrigatório o engajamento do professor com o curso de graduação. O entrosamento pode ser feito com alunos de graduação pesquisando nas linhas de pesquisa do mestrado. Com toda franqueza considero perda de tempo, professores com alta qualificação, dedicarem tempo no curso de graduação, o que pode ser feito com professores ainda não tão qualificados.
Espero ter sido objetivo e claro nesta exposição e coloco-me ao dispor desta Instituição para as entrevistas subsequente.” Vilmar Vidor da Silva
Dezembro 2006

Entre 2008 e 2009, dá prosseguimento a mais um Pós-Doutorado na Universidade – Paris X – Nanterre – França – Demografia de Sociedades Contemporâneas.
Entre os anos de 2009 e 2011, retornou à casa e voltou a lecionar no curso que idealizou – Arquitetura e Urbanismo da FURB – Disciplinas de Planejamento Territorial Urbano e Projeto Urbanístico.
Morou novamente no pequeno apartamento em que residira no final da década de 1970 e início da década de 1980. Nessa época fez fotografias do local.
Antes de retornar a Blumenau, em novembro de 2015, esteve na França e desenvolveu pesquisas sobre Cidades Novas – Villes Nouvelles na Universidade Paris 8, Saint Denis-Vicennes – França. Estava na fase da redação e o tema era “O Processo de Favelização da População Brasileira”. Seu objetivo era compreender o método de implantação do projeto de “Villes Nouvelles” e tentar implantá-lo no Brasil. Começou a pesquisa em 2008, continuou uma parte em 2010, criando uma possibilidade de desenvolver um projeto por solicitação de pesquisadores da Université Paris 8 Sorbonne sobre o tema – Favelas na América Latina. Por certo, esta solicitação estava encabeçada por seu orientador de Doutorado, o Geógrafo Michel Rochefort. Na Universidade de Sorbonne, onde Rochefort era professor e presidente do Conselho de Administração do Instituto Francês de Urbanismo, há um laboratório que estuda a sociedade contemporânea. Os franceses queriam compreender o porquê de a 6ª Economia do mundo ter um número tão grande de pessoas residindo em favelas, e Vilmar Vidor era o pesquisador que poderia contribuir com esta linha de pesquisa.

Professor Vilmar Vidor falando sobre Villes Nouvelles aos nossos alunos da Planejamento Urbano – 2014 – Jaraguá do Sul-SC.

Seu interesse em pesquisar e na montagem de projeto de “Villes Nouvelles” no Brasil foi movido por desejo e idealismo pessoais e motivados pelos colegas franceses. Tinha consciência de que não existia espaço no Brasil para aplicar o projeto. Não existia futuro diante das condições e da ausência de políticas públicas no país. O governo brasileiro não tinha e não tem interesse nesse tema. Os governos municipal, estadual e nacional não têm estrutura para iniciar este projeto nos moldes daqueles existentes na Europa.
Apresentamos um pouco, de maneira muito sintética, aspectos da passagem de Vilmar Vidor durante sua vida, em que – dentro do maior período desta, viveu e trabalhou na cidade de Blumenau.
Em novembro de 2015, Vilmar Vidor, que estava na França, retornava mais uma vez para Blumenau. Isto foi por volta do dia 12 de novembro, quando teve um mal súbito. Submetido a um procedimento cardíaco no Hospital Santa Catarina, foi vítima de outras complicações que não aquela pela qual dera entrada no hospital, e não conseguiu superar.
No dia 25 de novembro de 2015, às 10h, partiu.

“Planejamento Urbano é um assunto que me apaixona. Eu vim para a cidade de Blumenau para trabalhar sobre o Plano Diretor, porque eu acreditava na minha formação de Arquiteto, que o Planejamento ajuda a população a chegar em um determinado conforto urbano.” Vilmar Vidor

O professor Vilmar Vidor foi o Orientador deste trabalho – em formato de dissertação do curso de mestrado da Pós Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade – UFSC, em 2008 e o apresentou, na contracapa quando este foi publicado pela Edifurb, 2010 na forma de um livro.

Arquiteto Vilmar Vidor da Silva, profissional que deixou um legado na cidade de Blumenau e região e foi responsável, ao lado de outros professores, colegas seus, no curso que idealizou, pela formação der inúmeros novos arquitetos e urbanistas e também pela livre reflexão do espaço da cidade.

Entrevista concedida como presidente do IPPUB à uma pesquisa – coleta de dados – sobre a Rua das Palmeiras ou Alameda Duque de Caxias – Centro Histórico de Blumenau.

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Vilmar Vidor apreciava fotografar a paisagem natural e construída com uma pitada de arquitetura e história.

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)

Chegou o livro “Fragmentos Históricos – Colônia Blumenau” – inspirado nos artigos desta coluna.

Agradecemos este espeço que nos inspirou a colocar parte deste conteúdo nesta publicação. Colocaremos nas Bibliotecas das Escolas Municipais e nas principais bibliotecas de Blumenau.