Saiba como estão os estudos de ossadas humanas encontradas na BR-470

Sambaqui Ilhota II foi localizado no fim de 2018 durante as obras de duplicação da rodovia federal

Parte das ossadas encontradas em um sambaqui às margens das obras de duplicação da BR-470 ainda estão sendo estudadas por biólogos. Os especialistas estão investigando a alimentação dos dois esqueletos a partir dos vestígios que podem ser encontrados nos dentes de um deles.

O sítio arqueológico, que tem a idade estimada em quase seis mil anos, é estudado pelo laboratório Espaço Arqueologia desde o ano passado. A empresa foi contratada pela MPB Engenharia, com autorização de execução dos trabalhos por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Um dos esqueletos estava bastante deteriorado, portanto não contribuiu muito com as pesquisas, porém o outro estava com o crânio bem preservado. A partir disso, é possível indicar que se trate de uma mulher jovem, entre 20 e 30 anos.

Raquel Schwengber/Divulgação

De acordo com o biólogo Alexandre da Silva, especialista em arqueologia, diversos fatores influenciam o estado de preservação das ossadas. Ele explica que existem dois tipos de enterramentos: o primário e o secundário.

O segundo acontece quando o sepultamento é aberto e realocado em outra área. Segundo ele, esta é uma prática comum nesses grupos, mas que prejudica a preservação dos esqueletos. O local do enterramento também influencia a conservação.

O estudo levantou que o local onde estavam não era um ponto de moradia, mas poderia servir para demarcar território ou para rituais fúnebres. Valdir Luiz Schwengber, arqueólogo e sócio-diretor da Espaço Arqueologia, explicou o processo em entrevista a O Município Blumenau. Ele considera a descoberta uma das mais relevantes do estado.

Após todo o estudo das ossadas, do sambaqui em si e de restos de carvão de fogueiras, a pesquisa agora se concentra em detalhes menores dos esqueletos: o cálculo dentário da mulher. Ou, em outras palavras, o tártaro encontrado no dente dela.

Raquel Schwengber/Divulgação

O processo se concentra em remover este cálculo dentário e investigar os micro vestígios que podem ser encontrados nele. Um dos que está sendo estudado, e ajuda os biólogos a entender a alimentação do grupo, são os fitólitos.

Essas estruturas microscópicas são encontradas em alguns tecidos e persistem após a decomposição. Essa resistência é o que torna os fitólitos uma importante ferramenta de interpretação em registros fósseis.

As famílias de fitólitos encontradas no sambaqui Ilhota II mostram a diferença entre a alimentação da dupla e do que foi identificado em diferentes sítios arqueológicos na região. Enquanto outros esqueletos consumiam milho e batata doce, as ossadas encontradas na rodovia tinham como base da alimentação de peixes de água salgada.

Além disso, outros microvestígios mostram que frutas estavam na dieta desse grupo. Embora seja difícil definir quais, coquinhos de jerivá carbonizados foram encontrados na área escavada. Outro detalhe observado é que os dentes dela tinha pouca cárie.

Alexandre explica que, apesar de toda a equipe estar empenhada no estudo, o processo é um grande desafio. Outros especialistas do país foram consultados e ainda serão contatados para auxiliar nos estudos.

“O mais difícil fica por conta da identificação que requer uma busca minuciosa pela bibliografia especializada. E como é algo novo ainda carece de muitas descobertas. Poucos trabalhos como esse foram realizados no Brasil”, explica.

Destino das ossadas

O único material que continua com os arqueólogos são as amostras do cálculo dentário. O restante das ossadas foi entregue à reserva técnica da Universidade do Extremo Sul Catarinense, em Criciúma.

Os esqueletos são muito frágeis, portanto precisam ficar acondicionados em um espaço com a iluminação e a temperatura controlada. Portanto, o material nunca será exposto ao público, porém, poderá ser estudado por outros cientistas no futuro.

Raquel Schwengber/Divulgação
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