Cabeleireira, modelo, estudiosa: amigos descrevem Daiana, vítima de feminicídio em Blumenau
Colegas de trabalho e conhecidos de Daiana lamentaram o crime nas redes sociais
Cabeleireira, modelo, ativista pelos cachos naturais. Daiana dos Santos da Silva será lembrada pelos amigos e colegas por muitos motivos. Morta pelo ex-namorado no estacionamento do trabalho, ela foi vítima de feminicídio aos 27 anos.
“A Day era muito alegre, cativava a todos. Ela nunca comentou comigo nem com as outras colegas mais próximas se ele era agressivo. Precisamos falar sobre relacionamentos abusivos”, alerta a amiga Eleni Rodrigues.
O principal suspeito, de 30 anos, já foi preso na manhã desta quinta-feira, 26, poucas horas após o crime. Ele teria esfaqueado a vítima por não aceitar o fim do relacionamento. O homem foi encontrado em sua casa, no bairro Fortaleza. Porém, a prisão dele não representa a solução de um problema muito maior.
Entre 2018 e 2019, os casos de violência contra a mulher aumentaram mais de 50% em Blumenau. Em setembro deste ano, Margarete Zanella foi morta pelo companheiro que não aceitava a separação. Ainda em 2019, Marise Mette e Bernardete Libardo também foram assassinadas pelos seus companheiros. A boa notícia do ano foi que mais de um ano após matar a ex-namorada Bianca Wachholz, Everton Balbinott foi condenado a 26 anos de prisão.
Moradora de Blumenau, Daiana era natural de Minas Gerais. Sua morte foi lamentada por muitos amigos, colegas de trabalho e conhecidos nas redes sociais. Ela estava chegando no salão em que atuava, no bairro Victor Konder, quando foi morta. O Corpo de Bombeiros e o Samu chegaram a atender a ocorrência, mas ela não resistiu às facadas.
O local divulgou em suas redes sociais que não atenderá nesta quinta-feira e reforçou a tristeza pelo ocorrido. “Estamos sem forças para acreditar no que aconteceu. Nós não vamos nos calar, vamos lutar por todas as Daianas”, publicou o Espaço Margarete.
Especialista em cabelos cacheados e crespos, Daiana frequentemente postava fotos dos seus clientes e reforçava a beleza das madeixas naturais. O Instituto Embeleze Blumenau publicou em suas redes sociais um apelo para que mulheres vítimas de violência doméstica busquem ajuda.
“Foi uma daquelas alunas que marcaram, por seu carisma, sua bondade e sua dedicação, os quais foram tirados do mundo muito cedo por uma violência desmedida, deixando uma ferida aberta em quem a conhecia e no mundo, por ser mais uma vítima numa lista que cresce assustadoramente”, afirmou a empresa.
Daiana e Eleni se conheceram durante a especialização em cachos. A professora alertava Day de que ela devia buscar o curso para ser cabeleireira antes de se especializar, mas a mineira surpreendeu com seu talento.
“Nós conversávamos muito sobre a profissão e acabei chamando ela para ser modelo no salão. Quando me mudei, foi ela quem ocupou meu lugar como especialista em cachos. Ela dizia que o curso foi a melhor coisa que ela fez, porque ficamos muito amigas”, conta.
Vítima de um casamento que também foi abusivo, Eleni acredita que o sucesso da amiga como cabeleireira e modelo possa ter motivado o término e, consequentemente, o crime.
“Parece que o papel do sexo frágil se inverteu. Não podemos fazer nada que eles ficam ofendidos. Nos cobram um padrão de beleza, mas não podemos chamar atenção. Não podemos ter destaque. Procure lugares de desenvolvimento pessoal e você encontrará na maioria mulheres”, desabafa.
Vereadores se pronunciam
Os vereadores Bruno Cunha (Cidadania) e Cristiane Loureiro (Podemos) publicaram em suas redes sociais condolências pela morte da moradora de Blumenau. O candidato mais votado dessas eleições contou que recentemente havia sido cliente de Daiana.
“Mais um dia triste que retrata o que é ser mulher em nossa sociedade. Que os crimes cometidos contra a Daiana dos Santos da Silva, assim como a Bia Wachholz e tantas outras vítimas de feminicídio, possam servir de impulsionamento para desenvolvermos POLÍTICAS PÚBLICAS MAIS EFICIENTES URGENTEMENTE de combate e amparo à violência contra a mulher”, publicou Cunha.
O vereador também mencionou a criação da lei do Dia da Luta Contra o Feminicídio, que foi criada para que a sociedade compreenda que “quando um feminicídio acontece, todos os homens precisam entender que são também responsáveis por ele”, defendeu.
Já a ex-secretária da Pró-Família pediu para que a justiça seja feita e que o autor do crime não saia impune. “Nunca é possível saber do que outra pessoa é capaz, independentemente de quanto tempo a conhecemos”, comentou.