Por Thiago Marques
Renata Aparecida Nazario é catarinense. Nasceu em Florianópolis e cresceu na cidade de Otacílio Costa, onde residiu por 8 anos, até vir para Blumenau. Ela utiliza uma cadeira de rodas para se movimentar.
“Eu não tenho muitas dificuldades sendo pessoa com deficiência (PCD), pra mim a deficiência é algo pequeno na minha vida, eu sou uma pessoa completamente saudável e não vai ser isso que vai me impedir de fazer o que eu quero”, afirma Renata.
Renata nasceu com Mielomeningocele, um nome longo e estranho quando lido pela primeira vez, mas com um significado específico. O nome se refere a uma má formação congênita na coluna vertebral da criança. Com ela, a medula espinhal não se desenvolve normalmente, existe um defeito na formação dessas estruturas e a causa disso ainda não é bem definida pelos médicos.
Essa condição é rara, e é mais comum em outros países, como a China. No Brasil, a prevalência estimada é de 1,4 bebês com o diagnóstico a cada 1000 crianças nascidas. Em Blumenau, existe a Associação de Amigos, Pais e Portadores de Mielomeningocele, que foi criada para promover a autonomia de quem tem a doença.
Vida pessoal
Desde fevereiro de 2023 ela estuda Publicidade e Propaganda na Universidade Regional de Blumenau (FURB) e está no segundo semestre do curso. Renata é praticante de Tênis de Mesa no Programa Paradesporto da cidade, ela não poupa esforços para viver sua vida intensamente. Faz muitas coisas que pessoas completamente saudáveis não fazem por falta de força de vontade, o que sobra nela.
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“Ela é uma guerreira, tem uma limitação maior que a minha e mesmo assim consegue fazer coisas extraordinárias. Mesmo tendo mais limitações, ela luta e consegue fazer as coisas de um modo que chega a parecer natural”, conta Fernando Rodrigues, marido de Renata, que também tem a mesma deficiência.
Renata e Fernando estão juntos há sete anos e se conheceram por meio de uma ONG responsável por conectar as pessoas com Mielomeningocele. Eles se conhecem há quase 20 anos, mas de acordo com Fernando, demoraram um bom tempo para transformar a sua amizade em romance.
“O Fernando é tudo na minha vida, ele me dá forças, apesar de ele ser teimoso e a gente ter umas briguinhas. Ele é tudo pra mim, é a pessoa que eu mais admiro e que mais me dá vontade de continuar”, comenta Renata, não escondendo o amor pelo marido.
Fernando também não poupa sentimentos na hora de falar o que o fez se apaixonar por Renata e o que ela significa em sua vida:
“Ela fez eu querer mais pela vida, no momento que eu estava sozinho eu não tinha perspectiva de vida, hoje em dia, com ela, eu vejo um futuro muito bom para nós dois”, afirma Fernando.
A história de Renata no paradesporto
A história de Renata no paradesporto começa em fevereiro de 2022, quando foi convidada a conhecer o projeto. Ela começou sua vida de paradesportista na natação, onde ficou por quatro meses, mas decidiu abandonar a prática em função de problemas de saúde.
Renata decidiu então começar a praticar tênis de mesa, onde ela se encontrou e desenvolveu uma paixão pela modalidade. Ela afirma que suas maiores realizações estão no paradesporto, responsável por abrir muitas portas em sua vida, uma delas foi a prefeitura. Renata protagonizou um vídeo sobre a instituição para as redes sociais.
“Os ônibus da cidade mudaram muito por conta disso, porque a gente ficou batendo o pé para a prefeitura melhorar e buscamos mudança para termos mais acessibilidade”, relembra Renata.
Já tem mais de um ano que Renata vem nessa trajetória, praticando tênis de mesa, sempre buscando se aprimorar. Ela já participou de dois campeonatos regionais e nesse ano, participará dos Jogos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc). A limitação de Renata impede que ela tenha uma movimentação na hora de praticar o esporte, porém não a impossibilita de praticá-lo em pé, sem o uso da cadeira de rodas.
“No início, a Renata queria jogar na cadeira de rodas, mas nós avaliamos a situação dela e observamos que ela poderia jogar em pé, então os primeiros dias de treino foram para adaptá-la a jogar dessa maneira”, comenta Guilherme Gomes, um dos treinadores de Renata no tênis de mesa. “Ela é uma menina muito dedicada, busca ser melhor todos os dias, mesmo com as suas dificuldades”, elogia Gomes.
Dificuldades e superação
Renata fala que sua maior dificuldade tendo a deficiência é o transporte. Ela já foi barrada de entrar no transporte público por motoristas. Diz que se negaram a deixá-la entrar por conta de sua condição. Em vez de se afetar, Renata procura ver a situação com outros olhos:
“Eu diria que a maior dificuldade que eu tenho hoje em dia é das pessoas me aceitarem. Confesso que às vezes dá um desânimo, a atitude de algumas pessoas que não são agradáveis. Mas eu não me importo muito, quer ter preconceito? Tenha, quer me olhar torto? Olhe, eu não posso mudar as pessoas, apenas ergo minhas mãos pro céu e agradeço que não sou igual a ela”, desabafa.
Os desafios e dificuldades enfrentados por Renata todos os dias, a carga emocional negativa que ela afirmou receber eventualmente e os obstáculos no caminho não são empecilhos para buscar viver sua vida.
“A deficiência é a minha maior motivação, eu vejo muitas pessoas que têm preconceito e me subestimam, duvidam da capacidade de eu fazer alguma coisa por causa da minha condição. A minha deficiência é só nas pernas, então eu sou capaz de muita coisa, eu sou inteligente e isso não vai me impedir de eu me casar, ter filhos, ter um estudo, sair e me divertir”, defende.
Renata e sua essência
Renata se destaca pelo carinho e empatia pelas pessoas. Todo o afeto que ela tem pelas pessoas é recebido de volta por ela. Quem convive com ela a descreve como uma pessoa que está sempre disposta a ajudar, não importa quem seja. Alguém que sempre está disposta a estender a mão e auxiliar a pessoa de qualquer jeito.
“Quando eu não estiver mais aqui eu quero ser lembrada do jeito que eu sou, deixar minha marca. O meu sorriso, minha força de vontade, uma pessoa que gosta de ajudar os outros e ver as pessoas felizes”, ensina Renata, com simplicidade e sabedoria.
Série de perfis
Este perfil integra uma série em parceria com o curso de Jornalismo da FURB. A iniciativa promove textos produzidos durante as aulas da disciplina de Gêneros Jornalísticos, ministrada pela professora Magali Moser, na quarta fase do curso.
O perfil é um dos formatos possíveis de textos jornalísticos que busca valorizar uma personagem.
As reportagens-perfis assumem um papel focado na experiência do outro, tendo como centralidade uma pessoa. Na parceria estabelecida entre O Município Blumenau e o curso de Jornalismo FURB prevê que a cada semana, o perfil escrito por um(a) estudante da turma seja publicado no portal, sempre nas terças-feiras.