Museus de Blumenau estão sem alvará do Corpo de Bombeiros
Prédio da Fundação Cultural, que pegou fogo em 1958, é um dos que não recebe vistoria "há vários anos"
Foi no Museu Nacional, mas poderia ter sido em qualquer outro local histórico do país. O incêndio que destruiu a instituição histórica mais antiga do Brasil denuncia a situação de centenas de lugares que guardam memórias nacionais. Em Blumenau não é diferente.
Alguns dos principais prédios públicos que abrigam a história, as artes e a cultura blumenauenses estão sem o alvará de funcionamento ativo. Ou seja, não receberam a vistoria do Corpo de Bombeiros para verificar os sistemas preventivos de incêndio.
É o caso, por exemplo, da Fundação Cultural de Blumenau, prédio que já abrigou a prefeitura e, em 1958, foi parcialmente consumido por um incêndio. Estão na lista também endereços históricos como o Museu de Ecologia Fritz Müller o Museu da Família Colonial e o próprio Arquivo Histórico José Ferreira da Silva.
Todos os anos as instituições devem solicitar a vistoria para renovar o alvará de funcionamento. No caso dos prédios municipais, no entanto, isso não ocorre “há vários anos”, segundo os bombeiros. Uma exceção à regra é o prédio da prefeitura, que está em processo de regularização.
“Convém ressaltar que compete ao responsável pelo imóvel solicitar anualmente a respectiva vistoria para funcionamento. De qualquer forma, já efetuamos contato com o setor competente da prefeitura para que compareçam ao cartório desta Seção ainda nesta semana, a fim de retomar o processo de regularização de cada uma das edificações listadas”, respondeu o tenente Rodrigo Basílio, do Corpo de Bombeiros de Blumenau, que integra a seção de atividades técnicas.
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Basílio pondera que os sistemas preventivos nesses locais são simples, já que as estruturas são similares à de uma casa.
“Nada comparado àquele museu do Rio de Janeiro, são situações muito diferentes”, ressaltou.
Ele também explica que, apesar da falta de vistoria, não necessariamente os locais apresentam riscos, justamente por serem edificações de “baixa complexidade”.
“Nunca houve preocupação”
Segundo a historiadora e diretora do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Sueli Petry, os patrimônios blumenauenses não estão preparados para enfrentar uma situação como a vivida no Rio de Janeiro porque são raros os museus brasileiros que possuem os itens de segurança necessários e que atendem às exigências internacionais.
“Nunca houve preocupação dos governos estaduais ou do país em preservar as nossas memórias, em se tratando de documentação e acervos museológicos. É uma crise nacional”, avaliou Petry.
O prefeito Mário Hildebrandt (PSD) concorda que a situação não está restrita a Blumenau e encara as irregularidades nas vistorias como reflexo disso. Na visão do chefe do Executivo, os recursos acabam sendo direcionados para questões urgentes, enquanto outras demandas ficam um pouco mais de lado.
Porém, afirma que a prefeitura faz o possível para manter as condições mínimas nos prédios dos museus, suficientes à visitação com segurança.
Prédios com vistorias atrasadas
Fundação Cultural de Blumenau
Mausoléu Doutor Blumenau
Arquivo Histórico Professor José Ferreira da Silva e Biblioteca Municipal
Museu da Família Colonial
Museu de Hábitos e Costumes
Museu da cerveja
Centro Cultural da Vila Itoupava
Museu de Ecologia Fritz Müller
Desafios na prevenção
Mesmo quando há alguma reforma ou vistoria, as próprias exigências de prevenção dos bombeiros não são seguidas à risca, revela Basílio. As edificações históricas da cidade são regularizadas em uma norma específica. Porém, por causa da arquitetura antiga, nem todos os pedidos podem ser cumpridos para não alterar as características originais.
“Nesse tipo de edificação, a gente tenta chegar em um meio-termo, porque não adianta exigir na íntegra o que as normas vigentes preveem porque você vai acabar com aquela edificação. O local tende a ficar um pouco mais vulnerável, até pela idade do imóvel. Infelizmente, não tem o que fazer”, acredita Basílio.
Questão histórica
Há 60 anos, o prédio da Fundação Cultural de Blumenau, onde à época funcionava a prefeitura, foi parcialmente destruído por um incêndio. O Fórum, cartórios de Crime, Civil e Comercial, de Órgãos e Ausentes, Tabelionatos, Cartório Eleitoral, Delegacia Regional de Polícia e Arquivo Histórico Municipal foram consumidos pelo fogo.
“Não é somente a questão do incêndio que nos preocupa, porque nós não enfrentamos só incêndio, nós temos o problema de enchente. Além do incêndio de 1958, nós já tivemos problemas de enchente. Uma no século 19, que levou a casa do Dr. Blumenau, e outra, em 1983, deixou o museu fechado por quase um ano e muitos dos pertences foram perdidos”, lembra o presidente da Fundação Cultural de Blumenau, Rodrigo Ramos.
Melhorias no Arquivo Histórico
Na manhã desta segunda-feira, 3, houve uma cerimônia para recebimento de recursos federais para a área da cultura, em Blumenau. No salão nobre da prefeitura, foram assinados contratos de repasses financeiros da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 225 mil e de quase R$ 223 mil.
O primeiro investimento irá para a reforma e adaptação de espaços da Fundação Cultural de Blumenau, Biblioteca Pública Municipal Fritz Müller e o pequeno Auditório Edith Gaertner. O segundo, para reforma e adaptação do prédio do Arquivo Histórico.
“Isso significa, principalmente, a reconfiguração do sistema elétrico e hidráulico, do sistema preventivo de incêndio. Isso tudo está no projeto”, explica Ramos.
Se tudo ocorrer conforme o previsto, as obras devem ser feitas no próximo ano.
Correção:
Até as 13h10 de segunda-feira, 10, o Museu Hering estava na lista de prédios com a vistoria atrasada. Na realidade, o Museu solicitou todas as renovações necessárias deste ano, estando apenas com uma pendência documental. De qualquer maneira, pode ser considerado uma estrutura regularizada, segundo os bombeiros. Todas as informações foram conseguidas com a instituição.
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